3.1.11

O Renault do Barata

Por A.M. Galopim de Carvalho

– E VOCÊ, AÍ – continuou o magistrado, virando-se finalmente na minha direcção, sem contudo me olhar, naquele seu estilo injustificável, abusivamente autoritário e distante, terminando em mim a primeira ronda de interrogatórios iniciados pela identificação das testemunhas, – nome, onde é que mora e o que é que faz na vida?

«Senhor doutor juiz», – industriara-nos um funcionário do tribunal, míope, trémulo e coxo. – É assim que se tem de dizer. Sempre! Ouviram?!, Sim, senhor doutor juiz, não senhor doutor juiz. É assim! – Rematou o infeliz, com os olhos colados ao papel onde procurava conferir as presenças das três testemunhas abonatórias do Joaquim Miguel. (...)

Texto integral [aqui]

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2 Comments:

Blogger Bartolomeu said...

Pagou a bica, e fêz muito bem em ter pago, era o mínimo.
;)
A história do Joaquim Miguel, lembrou-me um final de tarde, teria uns 9, 10 anos de idade, morava precisamente em Algés, onde aliás nasci, e ao passar à porta da senhora que vendia o leite, deu-me para lhe pegar no carrinho em que transportava as garrafas e descer a rua com ele. O veículo era uma traquitana com 3 rodas e um selim de biciclete, à frente, uma enorme caixa metálica, onde eram colocadas as garrafas do leite.
A rua terminava numa conhecida artéria de Algés, a Av. da República. Ao chegar, como a velocidade já era demasiada, apertei a fundo os travões, as rodas da frente estancaram, a roda de trás levantou comigo em cima e lá fomos o carrinho as garrafas e eu, aos trambulhões pela rua fora.
A traquitana às cambalhotas e as garrafas a partir, fizeram um estardalhaço danado, que chamou a atenção de quem passava. Num segundo já tinham chamado a leiteira, dona do carrinho e lá estava a santa senhora a lamentar-se e a perguntar se me tinha magoado. Levantaram o carrinho que por sorte só já tinha 2 ou 3 garrafas com leite, o resto estava tudo vazio. E então, quase que a lamentar-se, a nobre senhora foi-me avisando, que tinha de ir a minha casa para que lhe pagassem o prejuízo das garrafas partidas. E assim foi, a senhora recebeu o valor correspondente e eu, levei uma valente reprimenda, com a promessa de que logo que o meu pai chegasse do emprego, ía ter de me ver com ele.
Quando chegou, eu estava no quarto e com o coração aos pulos encostei o ouvido à porta, tentando escutar a conversa entre a minha mãe e o meu pai, colocando-o a par da situação. Passados uns momentos, ouvi a vós do meu pai a dizer à minha mãe "então e agora o que queres que lhe faça? é miudo!"
Respirei de alívio e preparei-me para mais um responso, que não se fêz esperar.
;)

3 de janeiro de 2011 às 17:15  
Blogger R. da Cunha said...

Já por várias vezes, por motivos profissionais, fui testemunhar em tribunal e quase sempre se verifica a sobranceria intimidatória da maioria dos juízes (e de alguns advogados, também). Lamentável.
A estória, como sempre, bem desarrincada.

3 de janeiro de 2011 às 18:44  

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