25.3.11

«A Quadratura do Circo» - A divina boda do futuro

Por Pedro Barroso

EU AINDA quero o que queria, mas o que queria, pode não ser o que mais quero. Mudou.

Esta explicação destina-se a todos que desejam melhor informação curricular de que raio afinal eu quero, e desejo, e formativamente penso do futuro; de mim, da sociedade, do país e de nós todos primatas falantes e de polegar oponível e também deste Grito de alma.
Então, pronto, tentarei explicar o que sou e o que penso. Vai ser difícil, mas enfim.

Eu queria ver estes esforços todos conjugados e desaparecia feliz.

Estes grupos todos de facebook - estes pequenos projectos de utopia, uns mais loucos que outros; todos insuficientes, na sua pequena esquina, para governarem mais que o jardim do bairro, mas apaixonados e gritantes, cheios de força e coragem de fazer parar o mando e o mundo.

Ah, grandes companheiros da boina e da sociedade sem fronteiras!, nem estado, nem funcionários, nem estradas, nem impostos, nem ensino oficial, nem portas, nem moeda. Tudo espontâneo e fácil, tudo intuitivo e radical; todos eternamente bons e sem precisarmos de autoridade nem Polícia. Onde se trocassem galinhas por tijolos, ou canções, conforme a necessidade. E vice-versa.

E como admiro os outros, mais organizadinhos e legais; os companheiros associativos e sindicalistas, cuidadosos com a lei, cumpridores do sonho comunista, uma terra sem amos, a Internacional, que seria portanto uma mancha enorme e vermelha de operários e camponeses trabalhando em fábricas do Estado, todos vestidos de vermelho e a cantar a sete vozes as "Heróicas" do Lopes Graça e a deslocarem-se em pequenos carros Trabant feitos de papelão, tipo platex para combater o império do aço! E sempre argutos na manobra, sempre desconfiados de quem não esteja filiado. Como eu invejo o seu sentido colectivo de soluções por Kremlin infalível, a sua organização sectorial e a sua cega confiança e obediência!

Admiro ainda os que - como muitos milhares estão a surgir agora - cansados com este vergonhoso aparelho socialista e que querem generosamente devolver o tal partido "Socialista" aos socialistas, acabando com esta vergonha. Gente que sentiu a vergonha imensa de ver Sócrates gerir um partido e um país em total assincronismo com os preceitos mais basilares do socialismo - pondo os interesses dos praticantes de golfe antes dos pobres. Como admiro os homens q se levantam agora internamente, a dizer basta de vergonha, queremos um socialismo novo, gente de bem, acabemos com a corrupção interna, devolvam o ideário socialista ao partido, e outras arriscadas coisas.

Caramba, como os admiro. Gente de valor e coragem.

Mas admiro imenso o socialismo inteligente e evoluído dos países escandinavos onde sinto um grau de funcionamento das coisas e instituições que me deslumbra em sociedades limpas não poluentes, com um cuidado imenso com a floresta e a ecologia, onde os deputados são trabalhadores do estado, os ministros vão de bicicleta para o emprego e Olaf Palme morreu por, apesar de ser primeiro-ministro, ir de metro ao cinema com a sua mulher e ter encontrado, à vinda para casa, um maluco que o decidiu matar sem motivo nenhum, por mera maluqueira e não tinha guarda-costas.
Como eu admiro a social-democracia, a sua luminosa Estocolmo onde se poderia nadar e pescar entre ilhas pois nenhum esgoto desagua em suas águas. Como admiro a Noruega com a sua protecção as artes e ofícios, o seu sentido do belo, a sua discrição no poder, pois o poder não é para ser exibido, mas para ser eficaz.

E os reis, meu Deus? Que bonito é o cortejo perfeitamente inútil, de um aparato estapafúrdio em qualquer cerimónia de baptismo ou casamento numa Monarquia? Há lá coisa mais bonita que o romance de um príncipe com uma princesa, ambos lindos e estúpidos, criados para mandar desde a fralda real, inteligências preparadas para fazer férias permanentes a expensas do cidadão? Vejam como, coitados, cansados das Maurícias, recolhem a Saint Tropez; e cansados dos palácios de Kensington e de seus 30 criados se sujeitam, ainda assim, a passar mais feéias na neve em St Moritz, sofrendo horroroso assédio de paparazzis, só por amor à pátria? Há coisa mais bela que isto? A monarquia é uma coisa de facto comovente!

Eu amo também o universo dos grandes financeiros e sua magnanimidade. Suas engenharias financeiras para salvar o mundo e comprar submarinos! O sonho maior de minha vida era pôr um fato e uma gravata, entrar num Banco e ser tratado por senhor presidente! Desgraçadamente nunca vou conseguir que tal tipo de roupinha me fique bem, o que constitui um enorme desgosto pessoal. Nunca percebi bem porque têm de ser também sempre muito religiosos, e gostam de associar direita a uma figura tão descomposta, e rota, e mártir como o Nazareno na cruz. A direita é pelo amor pátrio, pela bandeira, pelo bem-estar da nação. Alguém quer lá saber dos pobres duma nação? Nos queremos é riqueza! Os pobres que se lixem, serão sempre pobres, sujos e maus.

Ah, como eu admiro os seus iates, os seus fatos Armani, as top-models que enxameiam Monte Carlo! O anúncio do Martini, caramba! Eu quero.

Sou um triste desiludido como vêem. Tudo me deslumbra e nada me satisfaz.

Então,

Ficava satisfeito se visse todos os homens de bem, de todas as cores, que estão - como eu, e como nós - fartos, fartinhos ate aos cabelos desta pintura borrada de sociedade. Todos os fartos desta teatralidade bacoca e pérfida da politica de bidé. E ver tudo a dialogar a uma mesa. É verdade.

Reis de vinte ducados e MRPP. Gritos e silêncios. Humanistas e não-sei-quê-da-Terra. Renovadores e milhões. Todos iguais, todos diferentes. Todos à rasca com o futuro de Portugal. E até ficava em casa nesse dia, feliz do que tinha conseguido, e desaparecia de felicidade!

Porque, juro-vos, nenhuma ambição de poder me move; mas também me irrita demais este mau desempenho destes actores da treta. Maus demais para ser verdade.

Gente de bem deste pais, desalinhados que não tenham ainda enlouquecido; ecologistas fundamentalistas do grelo e da soja; trotskistas do 3.º acordo, 4.ª decisória, 3.ª internacional, com ou sem boina; gente que gosta de Portugal e se irrita de o ver no fundo; comunistas cansados de nunca serem mais que o sonho de conseguir; sociais-democratas limpos e sérios, lavados de ideias; liberais apaixonados sinceros e justos, sem dogmas nem tabus.

Gente. Pessoas de bem, caramba!

Que tendes a perder? Não querem juntar-se ao nosso GRITO?

Venham acudir a este Portugal, abdicando cada um de seu espaço de vaidade e de meio quilo de tanto convencimento.

Eu, que nada sei e tudo respeito, convido-vos para uma nossa imensa e colectiva mesa.

Serviremos esperança em copos de iogurte. O serviço de cristal há muito que está no prego. Mas a esperança, essa ainda resistiu, guardada a sete chaves, nas caves mais belas do infinito sonho que nos cobre a alma.

Aproveitem. Se não quiserem embarcar, é pena. Era o último comboio da madrugada.

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1 Comments:

Blogger José Batista said...

Olhe, Pedro Barroso, voltámos ao tempo dos vampiros.
Ou nunca tínhamos (verdadeiramente) saído desse tempo.
Como boa manada, disponível para os sugadores e escoiceando-se entre si.
E assim, eles, refasteladamente, chupam tudo.
Porque nós, cordeiramente, deixamos.

25 de março de 2011 às 23:25  

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