22.7.11
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7 Comments:
A edição correspondente a esta capa, da «Biblioteca 'Sábado'», é muito fraquinha, especialmente devido ao tamanho minúsculo das letras, que tornam penosa a leitura.
Valerá a pena ver se a D. Quixote (de onde esta foi tirada) é melhor.
Li o livro o ano passado e na altura comentei no meu blogue - quem se dispuser link
http://jarrapensativa.blogspot.com/2010/11/mario-vargas-llosa.html.
De lá retiro:
"Tia Júlia e o Escrevedor", o livro que me entretém de momento, foi publicado em 1977 e relata autobiograficamente o que foi a sua vida e o seu pensamento por volta dos seus 18 anos. Namorava então a sua tia Júlia (melhor dizendo a irmã de uma sua tia), com quem efetivamente veio a casar aos 19 anos e ganhava a vida como jornalista numa rádio de Lima, enquanto estudava Letras e Direito na Universidad Nacional Mayor de San Marcos.
Detenho-me no capítulo IX onde Marito confidencia à sua prima Nancy, a sua paixão pela irmã da tia Olga, Julia. A sua prima tenta chamá-lo à razão, alertando-o para o escândalo, recordando-lhe que "a família tinha ilusões, era a esperança da tribo."
"Era verdade, a minha parentela cancerosa esperava de mim que fosse um dia milionário, ou no pior dos casos, presidente da República".
" Se te casares com ela, dentro de vinte anos, ainda és jovem e ela uma avozinha", recorda-lhe Nancy, sugerindo que do que ele precisava era de alguém como ela.
Júlia já lhe tinha, aliás, dito "Na melhor das hipóteses, o nosso caso duraria três anos, talvez uns quatro, quer dizer, até encontrares a miúda que vai ser a mamã dos teus filhos."
Ora isto não é um romance, é um oráculo.
Com vinte e oito anos, Mário divorcia-se de Júlia e um ano depois, casa-se com a sua prima Patrícia Llosa, sobrinha da sua primeira mulher e com quem vem a ter 3 filhos.
Em 1990 concorre à Presidência da Republica do Perú, pela Frente Democrata, perdendo para Alberto Fujimori.
Vinte anos depois em 2010 recebe o prémio Nobel da Literatura, que para além da consagração, vale para cima de 1 000 000 de Euros.
Cumpre-se assim a vontade da "parentela cancerosa" - o Marito, torna-se milionário, já que embora tenha tentado, não conseguira ser Presidente da República.
Certo.
Essa é a parte respeitante à "Tia Júlia". Mas a outra (a correspondente ao "escrevedor", Pedro Camacho) parece-me ainda mais deliciosa.
Para quem não leu: trata-se de um patusco, contratado pela rádio onde Mario trabalha, para escrever rádio-novelas - cujos guiões constituem capítulos inteiros do livro.
Essas novelas são um sucesso no país, e às tantas ele já está a escrever 10 ao mesmo tempo!
O problema é que ele, a certa altura, começa a baralhar as personagens, que saltam de umas histórias para as outras. É a loucura total, verdadeiramente hilariante. O auge da barafunda é um encontro de futebol que se transmuta numa tourada.
Então de novo:
O Sr. Federico Téllez Unzategui, "estava na flor da idade, nos cinquenta e os seus sinais particulares - fronte larga, nariz aquilino, olhar penetrante, retidão e bondade de espírito", tinham-lhe permitido atingir o sucesso à frente da firma Anti-Roedores, S.A..
Embora nada faça crer que conhecesse a Drª Lucía Acémila ("mulher superior e sem complexos, chegada ao que a ciência deu em considerar a idade ideal - os cinquenta - apresentava fronte larga, nariz aquilino, olhar penetrante, retidão e bondade de espírito"), tinha superado os traumas de uma infância difícil, seguindo intuitivamente o método que tanta fama viria a dar a esta facultativa - não havia vantagem em superar as preversões e os complexos, bastava assumi-los e fazer disso uma vantagem.
E assim Federico Téllez Unzategui, com uma vida potencialmente destruída pela culpa associada a um episódio da sua infância (a morte de sua irmã, ainda bebé, comida por uma horda selvática de ratazanas), superou o trauma, que vitimaria socialmente seu pai e mãe, tornando-se o mais importante exterminador de roedores de toda a América Latina.
Por isso não espanta que, tendo "uma vez , um engenheiro agrónomo com pretensões de dietista, ousado dizer à sua frente que, dado a falta de gado no Peru, era necessário intensificar a criação de cobaias com vista à alimentação nacional", tenha recordado "ao atrevido que a cobaia era prima/irmã da ratazana".
Mas como este "reincidindo, recitou estatísticas, falou de virtudes nutritivas e da carne saborosa ao paladar", "o senhor Federico passou então a esbofeteá-lo até o dietista rolar pelo chão".
Estava em Lima e como já tinha comido ceviche peruano na véspera (declarado Património Cultural da Nação), prato de peixe e marisco crú num molho fortemente alimado, desafiei a minha guia a surpreender-me com outro extravagante petisco, daquela que é considerada uma das mais originais cozinhas do Mundo.
Prometeu levar-me a um restaurante popular em San Isidro, onde serviam o melhor cuy andino.
O ambiente era animado e enquanto se esperava o prato, foram-se bebendo uns Pisco Sour, cocktail nacional feito a partir de Pisco (aguardente de uva), sumo de limão, clara de ovo e canela. E esta alcoolemia introdutória salvou-me de uma má figura, quando me foi servida uma espécie de ratazana estaladiça, que de resto se veio a revelar deliciosa.
O Cuy era afinal o nosso porquinho da Índia ou cobaia e a que os ingleses chamam Guinea Pig.
No Perú comem-se cerca de 65 milhões de cuys por ano, prática que foi reintroduzida a partir dos anos 60, e da qual o engenheiro agrónomo, personagem do folhetim de Pedro Camacho, terá sido um importante impulsionador.
Bem... as coisas "de comer" mais horrorosas que vi até hoje foi na China.
Já tinha tido umas amostras em Macau e em Hong-Kong (nomeadamente cobras vivas na montra), mas sapos, escaravelhos e osgas gigantes só lá...
As 2 horas que tive de passar num mercado chinês foram simplesmente horrorosas, não só pelo que se via (alguns desses bichos, fugidos, andavam a passear pelo chão!), como pelo cheiro.
E fez-se a partir do livro um muito divertido filme, com Peter Falk no papel do escrevedor. Para pena minha, nunca chegou ao mercado dos DVD, pelo menos em Portugal.
Li o livro pouco tempo depois de Vargas Llosa ter ganho o Premio Nobel, deixo aqui o link com comentário:
http://sugestaodeleitura.blogspot.com/2011/01/tia-julia-e-o-escrevedor-mario-vargas.html?showComment=1300913625531
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