Como sufocar O Grito?
Por Ferreira Fernandes
NÃO É EXACTAMENTE país do qual saibamos muito, mas tem uma das pinturas que mais depressa reconhecemos: O Grito, de Edvard Munch, a expressão violenta da angústia.
A Noruega é hoje tão rica (petróleo) que se permite recusar a União Europeia, só tem países amigos à volta e aparentemente não devíamos relacioná-la com o seu mais famoso quadro. Ontem ainda, durante a tragédia de uma bomba no centro de Oslo e um tiroteio num acampamento de jovens, vimos chegar as imagens e não reconhecemos nelas a ideia que temos de angústia. Ideia que, dou-me conta agora ao escrevê-lo, nada traduz melhor do que o desespero daquela figura num cais de Oslo, mãos levadas à cara, olhos e boca grotescamente abertos - mas isso é O Grito, não as imagens de ontem. As janelas rebentadas por vários andares, mas as pessoas não reagiam com o desespero a que já nos habituaram os momentos após bomba nos souks de Bagdad e Carachi.
Num dos vídeos de ontem, um casal pisa com cuidado os vidros espalhados no passeio e cruza um banco em que um homem continua a ler o jornal. Homem e banco eram esculturas, mas a sua placidez não contrastava com o que se passava à volta.
À hora em que escrevo, não sei ainda se o ataque terrorista é de grupo internacional islâmico ou de radicais noruegueses. A ser o primeiro, a resposta norueguesa foi admirável. A ser o segundo, duvido que os noruegueses consigam sufocar por muito mais tempo o grito.
«DN» de 23 Jul 11
NÃO É EXACTAMENTE país do qual saibamos muito, mas tem uma das pinturas que mais depressa reconhecemos: O Grito, de Edvard Munch, a expressão violenta da angústia.
A Noruega é hoje tão rica (petróleo) que se permite recusar a União Europeia, só tem países amigos à volta e aparentemente não devíamos relacioná-la com o seu mais famoso quadro. Ontem ainda, durante a tragédia de uma bomba no centro de Oslo e um tiroteio num acampamento de jovens, vimos chegar as imagens e não reconhecemos nelas a ideia que temos de angústia. Ideia que, dou-me conta agora ao escrevê-lo, nada traduz melhor do que o desespero daquela figura num cais de Oslo, mãos levadas à cara, olhos e boca grotescamente abertos - mas isso é O Grito, não as imagens de ontem. As janelas rebentadas por vários andares, mas as pessoas não reagiam com o desespero a que já nos habituaram os momentos após bomba nos souks de Bagdad e Carachi.
Num dos vídeos de ontem, um casal pisa com cuidado os vidros espalhados no passeio e cruza um banco em que um homem continua a ler o jornal. Homem e banco eram esculturas, mas a sua placidez não contrastava com o que se passava à volta.
À hora em que escrevo, não sei ainda se o ataque terrorista é de grupo internacional islâmico ou de radicais noruegueses. A ser o primeiro, a resposta norueguesa foi admirável. A ser o segundo, duvido que os noruegueses consigam sufocar por muito mais tempo o grito.
«DN» de 23 Jul 11
Etiquetas: autor convidado, F.F
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