2.8.11

As egrégias avós

Por Helena Matos

EM ESPANHA, o júri que ia decidir sobre qual o cineasta que seria distinguido com o Prémio Nacional de Cinema foi suspenso, pois integrava três mulheres e nove homens, desproporção de sexos que não é permitida pela legislação dita da igualdade, em vigor naquele país.
Não deixando sempre de me surpreender com a energia e a imaginação reveladas por estes comissários da igualdade, creio que o melhor é apresentarem-nos o catálogo da fantasia igualitária todo de uma vez. Por exemplo, este ano suspenderam o júri e lá mandaram sair um senhor para entrar uma senhora. Para o ano já sabemos que num outro festival qualquer o problema vai nascer do facto de o premiado não ser uma mulher. Ou porque os filmes não têm actores negros ou asiáticos. Ou porque não existem homossexuais. Ou porque as diversas confissões não estão todas igualmente representadas. Ou por outra razão qualquer.

Paulatinamente passámos da defesa da igualdade de direitos para o proselitismo da igualdade em si mesma. E o resultado é esta maluqueira extenuante em que a mais simples escolha do presente é vivida sob o estigma da discriminação e o passado é sujeito a uma espécie de censura prévia.
E, nem de propósito, enquanto procurava terminar este texto descobri que a Áustria vai mudar a letra do seu hino de modo a que este refira não apenas os filhos da nação mas também as filhas. Se a moda pega, os hinos, como o português, tornar-se-ão um quebra-cabeças, pois para além das heroínas do mar ainda temos o magno problema das egrégias avós. Não se riam que não só lá chegaremos, como já se discutiram coisas bem mais estúpidas.
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Público e Blasfémias

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