30.7.11

Sério, a sério?

Por Antunes Ferreira

PELOS VISTOS, a prática do copianço nacional teve mais um exemplo. Copiar em provas de exame em Portugal não é de agora; mas, agora, está a exagerar. Pelo menos a nível dos agentes da Justiça, para ser mais correcto, dos que se preparam (?) para o ser. Depois do episódio caricato mas grave ocorrido no CEJ (Centro de Estudos Judiciais) com candidatos a juízes, desta feita o caso passou-se na Ordem dos Advogados. Contágio entre vizinhos, quiçá.
Treze advogados estagiários foram apanhados a copiar durante os exames em Lisboa, quando usavam manuais de consulta com anotações próprias. As provas foram anuladas pela Ordem, mas os estagiários pecadores terão direito a repetir o exame no final de Setembro. Com tais ocorrências intervaladas por escassos meses, quase apetece dizer que o crime… compensa.
Para além da atitude faltosa, foi gerando mais uma saudável polémica sobre as próprias provas. Aqui d’el rei, o estágio tivera um preço «exorbitante», publicou um semanário lisboeta coleccionador de escândalos diversos e, veja-se, tinha decorrido em metade do tempo estipulado.
Esse não foi, porém, o único problema nas provas que dão acesso à segunda fase do estágio de advocacia. Vários candidatos queixaram-se ao SOL da falta de informação sobre os manuais de consulta e de uma formação com um preço «exorbitante», e que foi feita em metade do tempo estipulado. A Ordem disse que não.
O encontro, tal como qualquer partida de futebol, seja qual for a divisão em que os clubes se encontram, teve a sua primeira parte; agora estará no intervalo, para que depois se siga a outra metade. Aguarda-se, com expectativa, o decurso desta, para se saber qual será o resultado final do encontro. Porém, no caso vertente, não há totobola nem similar. Foram mostrados uns quantos cartões amarelos mas nenhum vermelho. Lá mais para o Outono os infractores terão nova oportunidade para serem aprovados.
A um tal cozinhado, temperado a gosto dos cozinheiros, dos comensais e de outros, tal como um círculo quadrado, acrescentem-se umas pitadas de picante, piripiri ou jindungo, q.b. para lhe dar o sabor exótico que possui. O bastonário Marinho Pinto vira no ano passado o Tribunal Constitucional reprovar a criação de prova de acesso à profissão
Nos primeiros exames nacionais criados pelo bastonário Marinho e Pinto, cerca de 1700 estagiários estavam inscritos para fazer as três provas que dão acesso à segunda fase do estágio que completa a formação da Ordem. Um número muito superior ao habitual porque não houve exames no ano passado, depois de o Tribunal Constitucional ter considerado ilegal a criação de uma prova de acesso à profissão. Continuo a citar o semanário em causa. Daí que no ano presente se tivessem apresentados os do ontem e os do hoje.
Saiu à estaca o bastonário, polémico ele também: disse que os estagiários apanhados com a boca na botija, no seu entender, deviam ser expulsos da OA. Mas quer a legislação geral quer a própria Constituição da República permitem que eles voltem a inscrever-se, para repetiram o exame.
No entanto, apressou-se a acrescentar que agora ocorrido não tinha qualquer comparação com o escândalo o caso que se verificara no CEJ onde o copianço fora generalizado. No exame da Ordem, apenas houvera uma dúzia de faltosos entre cerca de 1.700 candidatos. O que, bem vistas as coisas, até é uma percentagem aceitável. Comparada com ela, os chumbos nos exames de Português e de Matemática do 9.º ano foram catastróficos. Não se sabe, porém, qual a percentagem da utilização de cábulas pelos examinados.
Este País não será sério? A sério é que ele não é.

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