12.8.11

As galdérias e os manifestantes

Por Ferreira Fernandes

NO PORTO, no sábado, haverá uma manifestação de mulheres que não querem ser culpabilizadas pela violência de que são vítimas.
Num país em que um decote mais ousado é visto como "ela está a pedi-las" e onde até já houve um juiz do Supremo que encontrou desculpas num violador por a turista agredida pedir boleia em plena coutada do macho latino, manifestações como a do Porto são úteis. Mas foi estranha a reacção de uma das organizadoras: não queria, disse à Lusa, passar por "uma provocadora". Eis o que é inadequado vindo de quem chamou à sua manifestação "1.ª Marcha das Galdérias".
Claro que o não querer ser "provocadora" referia-se à ideia de que não é a mulher agredida que provoca a agressão. Mas quando se chama à sua própria manifestação "marcha de galdérias" a última coisa que se pode renegar é ser-se provocadora. Porque é-se mesmo provocadora, e com muita honra (não o ser, aliás, até desonra as manifestantes).
Detenho-me no assunto porque neste mundo perigoso as palavras têm de ser respeitadas. Estou em Londres, onde tem havido um debate sobre terminologia. A BBC foi chamada à pedra por insistir em chamar "manifestantes" aos desordeiros e saqueadores. A palavra em inglês é mais exacta, "protesters", o que permite perceber melhor a indignação dos ouvintes da BBC: "Mas quem parte uma montra e rouba uma camisola 'protesta' o quê?"
É, as palavras não são só para amantes de palavras cruzadas.
«DN» de 12 Ago 11

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