3.9.11

Por tuta e meia

Por Antunes Ferreira

COMO VEM constatando, o Governo chefiado por Passos Coelho cumpre rigorosamente o aforismo popular: é mais papista do que o Papa. Ou seja, a Troika disse mata e o Executivo acrescenta rapidamente e em força. E ainda mais: esfola. Não quer isto dizer que retomo a afirmação de Oliveira Salazar a propósito da «província ultramarina de Angola» que também fazia parte do Portugal do Minho a Timor, uno e indivisível. Nada disso. É uma força de expressão e um exercício de memória, apenas.

Foi, porém, o próprio primeiro-ministro que decidiu acelerar decididamente para ultrapassar o que a trindade santíssima (pois que mais se lhe pode chamar?) tinha imposto a este triste e desirmanado País. Já se sabe, sem a menor dúvida que é ela que governa Portugal. Era. As medidas avançadas por São Bento revelam que o trio era pouco ambicioso no espartilho que pusera aos lusos. Assim, aumentam-se.

Passos Coelho é quem manda? Também não; todos sabem que é a senhora Angela Merkel. Berlim incentiva, apoia, impõe, ordena – e Lisboa baixa as orelhas e cumpre. Acolitada pelo sacristão Sarkozy, é a chanceler alemã quem reza a missa, faz o sermão e admoesta o fiel português ameaçando-o que, se cair em tentação, se cometer pecado, a penitência tem que se lhe diga. É a prática normal numa União Europeia cada vez mais desunida. A Alemanha é… a Alemanha. Ponto.

Na quarta-feira, e dentro desse caminho muito original para o restabelecimento das finanças públicas, o inefável ministro Vítor Gaspar dirigiu-se de novo ao povo ignaro para apresentar o enquadramento do Orçamento de Estado para 2012. Ansiedade era o sentimento que vivia nos cidadãos – e com razão acrescida.

Isto porque uns escassos dias antes o ministro Álvaro Santos Pereira [de acordo com a Wikipédia, um economista, jornalista e romancista português (sic)] tinha informado a plebe que vinha a caminho o corte «histórico» da despesa pública. E sendo como era um emérito e jovem professor universitário no Canadá e nos Estados Unidos, não havia que duvidar.

Mas, mons murem peperit: o que aconteceu foi que Gaspar veio anunciar mais uns impostos. Como disse a jornalista Helena Garrido no Jornal de Negócios, quando o ministro fala é para aumentar a carga fiscal. A minha antiga colega no DN e boa Amiga questionava-se até sobre se teríamos um ministro das Finanças ou um cobrador de impostos.

Ironicamente ao intervir na Universidade de Verão do PSD, Mário Soares admitiu estar preocupado com as recentes subidas de impostos. E disse «Estamos a caminhar valentemente para o limite» daquilo que a classe média pode aguentar. Quem o convidou não deve ter ficado muito satisfeito, mas quem anda à chuva…

O busílis é que o fundador do PS e antigo Presidente da República defendeu que Portugal conseguirá ultrapassar os obstáculos que enfrenta «sem alienar - como alguns querem - o seu património, vendendo-o, por tuta e meia, até a empresas nacionalizadas no estrangeiro». Vamos pelo bom caminho, ai vamos, vamos.

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