11.11.11

Almofadas de contrafacção

Por Ferreira Fernandes

COM O GOSTO do Parlamento por discussões que dão sono, "almofada" entrou no debate político. Miguel Relvas deitou a palavra à discussão e Seguro repousou nela as esperanças socialistas. Até que, ontem, Passos Coelho tirou o assunto da cabeceira: "Este Orçamento não tem almofadas."
Tudo acabará num bocejo, a menos que Seguro, como na abstenção, descubra formas violentas e se queixe por a almofada do Governo o asfixiar. Aí, a política descambaria em fronhas carregadas...
Pintando a manta e estendendo o pé para lá do cobertor, íamos encontrar diferenças entre o "não faças nada sem consultar a almofada" e o "quem quiser bom conselheiro consulte o travesseiro."
É certo que há muito o têxtil veste o léxico político - virar a casaca, por exemplo - mas nunca se tinha dedicado tanto à roupa de cama. Com o jeito tão português de complicar, fomos para um artigo do enxoval que pouco esclarece: em vez de debatermos almofadas, já que se trata de Finanças, mais valia falar de maus lençóis. Ainda se fosse Economia, admitia-se que o Álvaro divagasse sobre as tão citadas almofadas: de penas (como metáfora da indústria tradicional), ortopédicas e hipoalergénicas (indústria high-tech) ou de sumaúma (sugerindo parcerias comerciais com os países que o produzem, Brasil e Angola)...
Enfim, se a roupa de cama continuar assim, um padrão tradicional entre os nossos políticos, receio que o palácio de São Bento se mude para o Vale do Ave.
«DN» de 11 Nov 11

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