Homenagem aos heróis escondidos

Por Ferreira Fernandes

QUANDO, numa manhã de 1904, em Michigan, Albert J. Parkhouse chegou tarde ao trabalho, já todos os ganchos para pendurar os casacos à parede estavam ocupados. Em 1904 já muita coisa se inventara desde a roda: por exemplo, há sete anos que Henry Ford tinha criado o seu próprio motor a explosão. Para pendurar casacos é que não havia nada de prático. Foi então que Parkhouse reparou num honesto arame, firme e maleável. Dobrou-o em triângulo, e prolongou o canto superior, que moldou em forma de gancho - e pendurou o seu casaco. Estava descoberto o cabide. Em 1904! Um século depois de Beethoven ter composto a Eroica, apareceu a cruzeta...
Esta semana, o Museu da Ciência, em Londres, dedica-se aos Albert Einstein modestos que mudaram o mundo. Napoleão só reconhecia um general maior do que ele: a "intendência". Foi por ela faltar que os seus exércitos foram derrotados na Rússia. Mas onde eles venceram, a intendência estava lá, isto é, a lata de conservas inventada por Nicolas Appert. Deste se poderá dizer: "Napoleão e Atum Ramirez, o mesmo combate!"
Outras pequenas glórias do londrino Museu da Ciência: o lápis, o curativo band-aid, o plástico com bolhinhas para proteger as embalagens, os contentores... Sabem que até 1953 o palerma do género humano descarregava os camiões nos portos, peça a peça, até que o escocês Malcom McLean inventou os contentores?
Este foi o meu intervalo: para lá dos ratings, há um mundo simples e real.

«DN» de 12 Nov 11