28.12.11

Tudo chora em Pyongyang

Por Manuel António Pina

DEIXANDO, como o PCP, de parte "fenómenos e práticas da realidade política coreana com as quais não se identifica[m]", também os passarinhos choram a morte do querido líder norte-coreano Kim Jong-il, cujas pompas fúnebres se realizam hoje e amanhã.

Informam o "Rodong Shinmun", jornal oficial da monarquia marxista-leninista Kim e o órgão do Partido do Trabalho da Coreia que, mal se soube do passamento do amado ditador, um grou voou três vezes à volta de uma estátua de Kim Jong-il e duas pombas bicaram a janela da dependência de uma fábrica de cimento onde os operários faziam compungidamente o luto pelo extinto, pondo-se depois "nos ramos de um pessegueiro a chorar durante meia hora". Noticia por sua vez a Rádio Pyongyang que uma ave branca não identificada (pode muito bem ter sido o Espírito Santo, de qualquer modo era algo "maior que uma pomba" e menor que um avião de reconhecimento americano) "limpou a neve que cobria os ombros de uma estátua do líder".

Mas igualmente o austero mundo mineral estará, segundo a agência oficial do regime, a KCNA, inconsolável. Assim, no momento em que Kim Jong-il soltava o último suspiro, o gelo de um lago de Monto Baekdu, sua terra natal, incapaz de suportar em silêncio o sofrimento, quebrou-se "com um rugido que fez tremer o céu e a terra".

Espera-se uma nota do PCP condenando a ingerência da Natureza nos assuntos internos da República Popular Democrática da Coreia.
«JN» de 28 Dez 11

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1 Comments:

Blogger José Batista said...

Há não muitos anos, Bernardino Soares disse não ter a certeza de que a Coreia do Norte não fosse uma democracia.
Os motivos daquele líder comunista sabe-los-ia (?) ele próprio... Mas a coisa não foi pacífica, com Vital Moreira referir acidamente a opinião do "rapazola"... Sendo que nessa altura, ou pouco depois, não tenho bem presente na memória, o próprio Vital Moreira se afirmava como a eminência parda (sobretudo parda, opinião minha) da governança de Sócrates.
A coisa chegou a uma tal "pardacência" que a própria mulher de Vital Moreira, em entrevista domingueira ao jornal "Público", havia de vincar as qualidades do marido, referindo que já várias vezes ele havia recusado ser ministro. Enfim...
Mas dá que pensar: os comunistas ou alguns deles (mais) ortodoxos pensam como pensam; os que deixaram publicamente de ser comunistas (ou alguns deles) não se sabe o que pensam ou como pensam; os que detêm o poder pensam em como preservá-lo e em servir a finança; e nos portugueses pobres não pensa ninguém nem, aparentemente, eles mesmos.
Assim mesmo, que o novo ano traga surpresas agradáveis. Pois o que for agradável será obrigatoriamente surpresa. Para os (mais) pobres.

28 de dezembro de 2011 às 17:25  

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