Uma história anacrónica
Por Ferreira Fernandes
HÁ QUATRO anos (quase dia por dia, 4 de janeiro de 2008), escrevi aqui sobre Yoani Sánchez, então com 32 anos, opositora cubana que mantinha um blogue livre. Ela esteve refugiada na Suíça mas regressara a Havana: "A vida não está noutra parte, está em outra Cuba", disse ela, em frase admirável.
Citei o seu jeito manso de se opor: "Se me dissessem: ou fechas o blogue ou vais para a prisão, fechava o blogue." A esse ser heroica sem alardear, classifiquei: "Provavelmente a mais difícil das coragens é essa, sem gritos." E contei como ela combatia: "No Natal, pôs no blogue a fotografia do irmão Adolfo (há cinco anos preso) e pôs a cadeira dele, vazia, no topo da mesa." Concluí: "O meio século de castrismo encontrou, enfim, o seu adversário - os resilientes. Contra Yoani, Fidel está irremediavelmente desarmado"...
Quatro anos depois, Yoani continua resiliente, mas o castrismo também continua teimoso: ela foi convidada a ir ao Brasil, mas não lhe dão autorização para viajar.
Quase todos os dias, Yoani entra-me em casa (a resiliência dela é inteligente) mas o castrismo não a deixa ir ao Brasil (a teimosia dele é burra).
Ontem, o jornal inglês Guardian publicava um apelo de Yoani Sánchez à Presidente Dilma Rousseff: "No século XXI, não poder sair e entrar livremente no seu país..."
De que serve encafuar uma pessoa pelas suas ideias e deixar as suas ideias a passear? Ditadura burra.
«DN» de 6 Jan 12HÁ QUATRO anos (quase dia por dia, 4 de janeiro de 2008), escrevi aqui sobre Yoani Sánchez, então com 32 anos, opositora cubana que mantinha um blogue livre. Ela esteve refugiada na Suíça mas regressara a Havana: "A vida não está noutra parte, está em outra Cuba", disse ela, em frase admirável.
Citei o seu jeito manso de se opor: "Se me dissessem: ou fechas o blogue ou vais para a prisão, fechava o blogue." A esse ser heroica sem alardear, classifiquei: "Provavelmente a mais difícil das coragens é essa, sem gritos." E contei como ela combatia: "No Natal, pôs no blogue a fotografia do irmão Adolfo (há cinco anos preso) e pôs a cadeira dele, vazia, no topo da mesa." Concluí: "O meio século de castrismo encontrou, enfim, o seu adversário - os resilientes. Contra Yoani, Fidel está irremediavelmente desarmado"...
Quatro anos depois, Yoani continua resiliente, mas o castrismo também continua teimoso: ela foi convidada a ir ao Brasil, mas não lhe dão autorização para viajar.
Quase todos os dias, Yoani entra-me em casa (a resiliência dela é inteligente) mas o castrismo não a deixa ir ao Brasil (a teimosia dele é burra).
Ontem, o jornal inglês Guardian publicava um apelo de Yoani Sánchez à Presidente Dilma Rousseff: "No século XXI, não poder sair e entrar livremente no seu país..."
De que serve encafuar uma pessoa pelas suas ideias e deixar as suas ideias a passear? Ditadura burra.
Etiquetas: autor convidado, F.F
1 Comments:
É sem dúvida uma reflexão muito interessante da qual discordo apenas num aspeto.
Fico contente por essa ditadura ser "burra" e permitir-se que alguma coisa ainda saia. Não desculpabilizando um milímetro apenas do que tem quilómetros de culpas, ainda assim seria muito pior, e bastante mais triste, que nem a voz da senhora se fizesse ouvir.
Não defendo que nos devamos contentar com um mal menor, a minha mensagem não é essa. Confesso que acredito que essa "burrice" constitui apenas o princípio para a evolução do regime para algo mais inteligente. Acredito que não se trate de cegueira... mas apenas um olhar para o outro lado.
Cumprimentos.
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