5.1.12

País de conversas em forma de assim

Por Ferreira Fernandes

VOLTANDO à vaca fria, isto é, ao talho. Ontem, por razões de atualidade (a emigração para a Holanda dos impostos do patrão do Pingo Doce), lembrei uma crónica minha, de há um ano, em que criticara o destaque que os jornais e conversas de café haviam dado a uma opinião política de Alexandre Soares dos Santos, quando se ignorou outra frase sua: "Quero talhantes para as minhas lojas e não os encontro." As reações à minha crónica de ontem foram idênticas às da primeira: falou-se da opinião política de Alexandre Soares dos Santos. Dos talhos, está quieto! Ora é sobre os talhantes que eu quero ouvir falar o dono do Pingo Doce (talvez a empresa que mais talhos tem em Portugal), como é a relação ancas-mamas que me interessa nas misses Mundo, não as opiniões delas sobre a extinção das focas. O problema, infelizmente, não está em Alexandre Soares dos Santos, está no nosso país (e deste não nos vamos livrar, não consta que emigre para a Holanda). Portugal adora bitaites de amadores e não ouve os profissionais que falam de assuntos substantivos de que entendem. E a ironia é que se tivéssemos só ouvido o profissional de supermercados a falar de talhos teríamos ouvido uma crítica política bem mais sólida do que aquela a que demos eco. "Quero talhantes para as minhas lojas e não os encontro" é arrasador sobre a política educativa portuguesa que em décadas de ensino desfasado da realidade não formou os profissionais necessários.
«DN» de 5 Jan 12

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1 Comments:

Blogger brites said...

não se pode obrigar o estado fazer talhantes,como não se pode obrigar a fazer jornalistas!

pagar bem pode ser atrativo...

Mas o homem não gosta de pagar mais do que o necessário para os ter lá no dia seguinte...

6 de janeiro de 2012 às 09:15  

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