Este medo que nos consome
Por Baptista-Bastos
ENTRAMOS no novo ano sob o peso de ameaças e de abominações terríveis. O medo institucionalizou-se através do discurso oficial. É um sentimento que nos acompanha há, pelo menos, quatro séculos, com a omnipresença da Inquisição, que a República atiçou e que o salazarismo subtilizou em métodos e processos. Consoante as ocasiões, a política tem utilizado os vários níveis do medo não só como intimidação mas, sobretudo, como ideologia. Há meses que nos dizem, ministros e acólitos, "comentadores" estipendiados e adjacências, dos pavorosos sacrifícios, das misérias atrozes com os quais vamos ser açoitados inclementemente. É uma estratégia indigna, mas eficaz. Não há ninguém que fale em 2012 sem o reduzir a uma qualquer palavra infamante. Mas, depois, ah!, mas depois o Governo, salvador e piedoso, admirável e sábio resolverá a maldição e tudo será leite e mel.
Quiseram fazer-nos cair na pior das armadilhas: a que se fundamenta na descrença, na inevitabilidade, no fatalismo e num insidioso complexo de inferioridade. Pouco valemos e o "outro" é sempre superior. As comparações com Espanha não deixam escapar nenhuma ocasião para estabelecer um paralelismo humilhante. A desmoralização passou a ser um ajustamento político, para fustigar os erros do Governo anterior. Com uma retórica deste género, têm-nos amedrontado, na tentativa de obter, posteriormente, os chamados "resultados plausíveis". Além de indigna, a estratégia é imoral, o que parece não incomodar muito o Executivo de Passos Coelho - nem o próprio.
Que horizonte? Nenhum. O projecto do Governo é, meramente, de exercício do poder pelo poder, e não perspectiva qualquer solução de melhoria social. Como não sabem o que fazer, crivam-nos de impostos e cercam-nos de privações. A nação esvazia-se de sentido e o País vê os seus melhores filhos proceder a uma debandada. No ano passado, 120 mil portugueses foram-se embora. Nos últimos meses, pelo menos catorze famílias entram, diariamente, em insolvência. O desemprego é transversal a toda a sociedade e a todas as faixas etárias. Os nossos velhos estão a morrer no opróbrio e na vileza, sem aparecerem respostas que autorizem a esperança na dignidade.
"O ano que ninguém quer", diz a RTP num estribilho no qual a espinoteante tolice dissimula a verdade dos factos. Não é o ano que condiciona as necessidades mais fortes; é a imbecilidade e a inépcia de quem cedeu a outrem a capacidade de decidir e o poder de alterar. Leio, numa gazeta semanal, que a troika quer reduzir o poder dos sindicatos. A troika quer? Que Governo é este, que permite a sua própria exautoração e deixa de representar aqueles que o elegeram em favor de um pequeno grupo de burocratas?
Um Governo assim, negligente e servil, cujo objectivo declarado é o de nos desmoralizar e empobrecer, serve para quê?
«DN» de 4 Jan 12ENTRAMOS no novo ano sob o peso de ameaças e de abominações terríveis. O medo institucionalizou-se através do discurso oficial. É um sentimento que nos acompanha há, pelo menos, quatro séculos, com a omnipresença da Inquisição, que a República atiçou e que o salazarismo subtilizou em métodos e processos. Consoante as ocasiões, a política tem utilizado os vários níveis do medo não só como intimidação mas, sobretudo, como ideologia. Há meses que nos dizem, ministros e acólitos, "comentadores" estipendiados e adjacências, dos pavorosos sacrifícios, das misérias atrozes com os quais vamos ser açoitados inclementemente. É uma estratégia indigna, mas eficaz. Não há ninguém que fale em 2012 sem o reduzir a uma qualquer palavra infamante. Mas, depois, ah!, mas depois o Governo, salvador e piedoso, admirável e sábio resolverá a maldição e tudo será leite e mel.
Quiseram fazer-nos cair na pior das armadilhas: a que se fundamenta na descrença, na inevitabilidade, no fatalismo e num insidioso complexo de inferioridade. Pouco valemos e o "outro" é sempre superior. As comparações com Espanha não deixam escapar nenhuma ocasião para estabelecer um paralelismo humilhante. A desmoralização passou a ser um ajustamento político, para fustigar os erros do Governo anterior. Com uma retórica deste género, têm-nos amedrontado, na tentativa de obter, posteriormente, os chamados "resultados plausíveis". Além de indigna, a estratégia é imoral, o que parece não incomodar muito o Executivo de Passos Coelho - nem o próprio.
Que horizonte? Nenhum. O projecto do Governo é, meramente, de exercício do poder pelo poder, e não perspectiva qualquer solução de melhoria social. Como não sabem o que fazer, crivam-nos de impostos e cercam-nos de privações. A nação esvazia-se de sentido e o País vê os seus melhores filhos proceder a uma debandada. No ano passado, 120 mil portugueses foram-se embora. Nos últimos meses, pelo menos catorze famílias entram, diariamente, em insolvência. O desemprego é transversal a toda a sociedade e a todas as faixas etárias. Os nossos velhos estão a morrer no opróbrio e na vileza, sem aparecerem respostas que autorizem a esperança na dignidade.
"O ano que ninguém quer", diz a RTP num estribilho no qual a espinoteante tolice dissimula a verdade dos factos. Não é o ano que condiciona as necessidades mais fortes; é a imbecilidade e a inépcia de quem cedeu a outrem a capacidade de decidir e o poder de alterar. Leio, numa gazeta semanal, que a troika quer reduzir o poder dos sindicatos. A troika quer? Que Governo é este, que permite a sua própria exautoração e deixa de representar aqueles que o elegeram em favor de um pequeno grupo de burocratas?
Um Governo assim, negligente e servil, cujo objectivo declarado é o de nos desmoralizar e empobrecer, serve para quê?
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1 Comments:
"Um Governo assim, negligente e servil, cujo objectivo declarado é o de nos desmoralizar e empobrecer, serve para quê?"
Obviamente, para ir à merda, de onde nunca devia ter saído.
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