3.1.12

Bem-vinda à tua terra, Stefanie

Por Ferreira Fernandes

OLÁ, STEFANIE. Tinhas as pernitas pretas e engelhadas e os olhos que ainda não se queriam abrir quando dei por ti. Em foto dos jornais, o bebé do ano. A tua mãe segurava-te, exausta e serena.
Nasceste na mesma casa onde conheci a minha filha, assim como tu, dedos dos pés espetados para vida. A casa chama-se Maternidade Alfredo da Costa, homenagem a um médico goês, Manuel Vicente Alfredo da Costa, nascido em Margão, onde os bebés nasciam com as pernitas mais da tua cor do que a da minha filha. O teu pai, Stefanie, não teve a minha sorte, não viu a filha no primeiro dia. Ele está em França a arranjar trabalho.
Começaste bem, acredita, uma mãe de olhar sereno, um pai em quem podes confiar, longe porque cuida de ti. Amanhã, sei lá, talvez se possa ter acesso às caixas de comentários dos jornais e tu, curiosa, talvez queiras saber o que se disse de ti no dia em que - a tua mãe não vai deixar de to lembrar - foste o bebé do ano em Portugal. Saberás, então, que muitos te mandaram para a tua terra. Mandarem-te para onde acabavas de chegar...
Estavas tu a nascer e eu estava numa festa. Inclinei-me para uma senhora muito velhinha que lá estava e disse-lhe: obrigado. Agradecia-lhe pelo que me deu o irmão dela, Fernando Quejas (1922-2005), o cabo-verdiano que me ensinou o que era uma morna.
Por que te conto isto? Eu ainda não sabia, mas o que estava a dizer àquela senhora velhinha era: olá, Stefanie.
«DN» de 3 Jan 12

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