23.3.12

As "últimas" consequências

Por Manuel António Pina

O CDS e o PSD reclamaram ontem na AR o apuramento de "responsabilidades" relacionadas com os contratos do TGV.

O CDS exige "que se vá até às últimas consequências" nesse apuramento, pois "é preciso saber quem, onde e como não protegeu o interesse público, não protegeu as contas públicas".

E, se o CDS disse "mata!", logo o PSD acrescentou "esfola!", num monólogo a dois tipo Dupond & Dupont: nós diríamos mesmo mais, é preciso "começar a responsabilizar quem tão conscientemente lesou o Estado português".

Vê-se enfim uma luz laranja azulada ao fundo do túnel da irresponsabilidade. Talvez, quem sabe?, CDS e PSD vão seguidamente apurar "quem, onde e como não protegeu o interesse público, não protegeu as contas públicas" no caso da venda do BPN ao engº Mira Amaral por 40 milhões, doando-lhe ao mesmo tempo 600 milhões como brinde (mais 303 milhões para o feliz contemplado pagar umas dívidas); ou no negócio dos submarinos do dr. Portas, que custou aos contribuintes algo como 941 milhões; ou ainda no dos sobreiros, que trouxe fama & proveito ao misterioso militante centrista Jacinto Leite Capelo Rego; ou...

E a crónica ficaria aqui até segunda-feira a enumerar negócios não fora, para tanto negócio que "lesou o Estado português", tão curta a vida. Aposta contudo que ir "até às últimas consequências" significa ir até às consequências do último apuramento de responsabilidades, isto é, até consequências nenhumas.
«JN» de 22 Mar 12

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