8.4.12

Um escroque que não é dos nossos

Por Ferreira Fernandes

HÁ DOIS ANOS, uma tempestade devastou várias aldeias francesas. Ainda havia casas submersas quando chegou à sinistrada região da Charente Marítima uma dessas pessoas a que o Sermão da Montanha chama sal da terra, das que vieram para edificar. Philippe Lebert trazia o farol giratório do seu jeep 4X4 a lançar alarmes e apresentou-se: era engenheiro do Ministério da Agricultura e vinha cuidar dos vivos. As autoridades puseram-se sob as suas ordens e as requisições dele fizeram vir escavadoras e material de construção. Ainda esta semana os autarcas homenagearam-no: o trabalho do grande Philippe, cinquentão com físico de jogador de râguebi, foi impecável. Homenagem, onde? No tribunal. Philippe Lebert está a ser julgado, é um escroque profissional, Berre é o seu verdadeiro nome, não é engenheiro, o 4X4 era roubado e as requisições falcatruadas. A mania das obras é que é autêntica. Em 1997, na região de Sarthe, a autoestrada A28 estava abandonada por causa dos ecologistas (tratava-se de defender um escaravelho raro). Chegou o "engenheiro Roger Martin", deu trabalho a 30 homens da região, e já havia dois quilómetros de pista impecável quando chegaram os gendarmes. Dessa vez, Berre apanhou cinco anos, agora arrisca dez. Ele confessa: adora ser mestre de obras. Em 2009, o filme À l' Origine, sobre a sua história em Sarthe, foi apresentado no Festival de Cannes. Eis o que não acontecerá aos do BPN - escroques sem sal não dão filmes.
«DN» de 8 Mai 12

Etiquetas: ,