5.4.12

Metáfora

Por João Paulo Guerra

O PEQUENO e médio ministro Mota Soares, dotado de surpreendentes poderes de corte, anunciou de uma vezada cortes nos subsídios por morte e de doença, bem como drásticas restrições no acesso ao Rendimento Social de Inserção.

Mas o que mais se evidenciou em relação às restrições no RSI foi o seu carácter ideológico e demagógico. Foi assim como se um governo decretasse que um ministro que inicie o mandato de mota e capacete não pode mudar depois para um veículo de quatro rodas e motorista, sob pena de ser acusado de ter mais rodas que barriga.

As regras para acesso ao RSI constituem um rol de insinuações para dar razão aos reaccionários que, sem mais que fazer, arengam nos cafés contra os pobres que "não querem mas é trabalhar". Se o Governo conhece casos de beneficiários do RSI com contas de milhares de euros nos bancos e que exibem sinais exteriores de riqueza, como vivendas, carros e aeronaves, devia mandar as polícias deterem tais indivíduos para averiguações. Se não sabe de casos que tais, então as anunciadas restrições significam que o ministro, o respectivo partido e o Governo andam a brincar com a miséria alheia.

O ministro e o respectivo partido entendem que a pobreza é tão susceptível de ser falsa como os rótulos partidários. E assim suspeitam da existência de verdadeiros pobres, como os verdadeiros pobres desconfiam da existência de partidos verdadeiramente «democratas» e «sociais». E para prestar contas ao espírito justiceiro das mais cavernícolas das clientelas, tendo o poder na mão, o ministro cortou a direito e ainda humilhou e estigmatizou os que precisam da última trincheira da solidariedade. Deve ter sido por referência a cristãos assim que Cristo recorreu à metáfora do camelo e da agulha.
«DE» de 5 Abr 12

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