31.7.12

Londres já tem um escândalo: uma dor de cotovelo

Por Ferreira Fernandes
JOHN Leonard fez a figura daquele Amigo da Onça que, à pergunta do padre se havia alguém contra o matrimónio, pôs o braço no ar, um sorriso malandro e acabou por não apresentar provas.
Leonard, diretor da Associação de Treinadores de Natação dos EUA, acusou ontem, no diário The Guardian, a nadadora Ye Shiwen de estar dopada quando ganhou os 400 metros estilos, batendo o recorde mundial. Caso se prove o doping, a medalha de ouro será retirada à chinesa. Mas isso, até agora, é mera hipótese. O certo é que a John Leonard devia ser-lhe já retirada a medalha do campeonato da decência desportiva.
O que Leonard disse ontem - seja Ye culpada ou inocente - vale por um doping, ou seja, é uma violação grave às normas desportivas. O doping não se sugere, prova-se. Uma coisa é ficar estupefacto com Ye Shiwen, sábado passado, cuja atuação merece esta palavra: inacreditável. O nadador americano Ryan Lochte, que nesse dia também ganhou o ouro nos 400 metros livres (e com o segundo melhor tempo de sempre), teria perdido os últimos 50 metros para a nadadora chinesa: ele nadou em 29.10 s e ela, em 28.93! Não é normal. E é estranho que tendo esse tempo sido feito em estilo livre, Ye nem vá nadar nas provas de 200 e 400 metros desse estilo. Mas não são as anormalidades e as estranhezas próprias dos recordes?
Por isso, John Leonard deveria ter-se ficado pela palavra justa, "inacreditável". Mas acrescentou: "[Ye] parece uma supermulher. De cada vez que alguém parece uma supermulher no nosso desporto é mais tarde culpada de doping." Deve ser uma especialidade das mulheres e da natação... Assim de repente, estou a lembrar-me de, nos JO de 1968, Bob Beamon ter voado 8,9 m no salto em comprimento. O que foi inacreditável durante 23 anos, até o próximo recorde, de Mike Powell, com 8,95 m. Ambos inacreditáveis e nenhum dopado. 
«DN» de 31 Jul 12

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