Londres já tem um escândalo: uma dor de cotovelo
Por Ferreira Fernandes
JOHN Leonard fez a figura daquele Amigo da Onça que, à pergunta do
padre se havia alguém contra o matrimónio, pôs o braço no ar, um sorriso
malandro e acabou por não apresentar provas.
Leonard, diretor da
Associação de Treinadores de Natação dos EUA, acusou ontem, no diário
The Guardian, a nadadora Ye Shiwen de estar dopada quando ganhou os 400
metros estilos, batendo o recorde mundial. Caso se prove o doping, a
medalha de ouro será retirada à chinesa. Mas isso, até agora, é mera
hipótese. O certo é que a John Leonard devia ser-lhe já retirada a
medalha do campeonato da decência desportiva.
O que Leonard disse
ontem - seja Ye culpada ou inocente - vale por um doping, ou seja, é
uma violação grave às normas desportivas. O doping não se sugere,
prova-se. Uma coisa é ficar estupefacto com Ye Shiwen, sábado passado,
cuja atuação merece esta palavra: inacreditável. O nadador americano
Ryan Lochte, que nesse dia também ganhou o ouro nos 400 metros livres (e
com o segundo melhor tempo de sempre), teria perdido os últimos 50
metros para a nadadora chinesa: ele nadou em 29.10 s e ela, em 28.93!
Não é normal. E é estranho que tendo esse tempo sido feito em estilo
livre, Ye nem vá nadar nas provas de 200 e 400 metros desse estilo. Mas
não são as anormalidades e as estranhezas próprias dos recordes?
Por
isso, John Leonard deveria ter-se ficado pela palavra justa,
"inacreditável". Mas acrescentou: "[Ye] parece uma supermulher. De cada
vez que alguém parece uma supermulher no nosso desporto é mais tarde
culpada de doping." Deve ser uma especialidade das mulheres e da
natação... Assim de repente, estou a lembrar-me de, nos JO de 1968, Bob
Beamon ter voado 8,9 m no salto em comprimento. O que foi inacreditável
durante 23 anos, até o próximo recorde, de Mike Powell, com 8,95 m.
Ambos inacreditáveis e nenhum dopado.
«DN» de 31 Jul 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
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