30.7.12

Uma tragédia grega e molhada

Por Ferreira Fernandes
OS JOGOS Olímpicos, além de espetáculo, afirmação de nacionalismos e acordos de bastidores, são jogos. Este contra aquele. Duelo que as técnicas modernas nos deixam ver ao pormenor e à exatidão. 
Que bem nos faz saber que este ganha àquele simplesmente porque é mais rápido, vai mais alto ou é mais forte. Lava-nos de tantos estranhos ganhos dos noticiários comuns... 
Os jogos são histórias de heróis e nestes JO de Londres temos um super-herói, Michael Phelps, embora se suspeite nele uma certa decadência. O nadador americano chegou com 16 medalhas, das quais 14 de ouro, e, tendo sete provas para correr, fortes possibilidades de bater o recorde de medalhas, 18, da ginasta russa Larisa Latynina, de há 50 anos. Phelps corre cego, com os óculos escurecidos, como para dizer que o diálogo (o duelo) é só consigo. Mas logo no primeiro dia de provas, sábado, apanhou uma tareia do seu compatriota Ryan Lochte e, pior, ficou pela primeira vez fora do pódio olímpico. Sem medalha. Ora ontem, na estafeta 4x100 livres, correndo na segunda posição, Phelps cumpriu em tempo prodigioso e distanciou a equipa francesa. Mas acabou por ver o seu colega de equipa Ryan Lochte a desbaratar a vantagem e o primeiro lugar. Então, Phelps contente pela sua 17.ª medalha, ou irritado por ela ser só de prata? 
Como os jogos são simples na forma mas complexos como uma tragédia antiga, Phelps deve ter gostado do falhanço do seu companheiro Ryan Lochte.
«DN» de 30 Jul 12

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