O "mercado" universitário
Por Manuel António Pina
ONTEM fui atendido numa caixa de supermercado por uma licenciada em
Engenharia, área em que parece não faltar emprego. O seu problema,
explicou-me resignada, era a universidade que lhe atribuíra o diploma...
Muitas escolas de ensino superior privado são hoje apenas
negócios (e sem departamentos de pós-venda). Comercializam diplomas de
"dr", de "mestre" e de "doutor por extenso" como poderiam comercializar
frutas ou legumes. Com uma diferença: o sector das frutas e legumes é
mais fiscalizado e os seus consumidores mais protegidos do que os do
"sector" do ensino superior.
As universidades públicas, apesar do
"salve-se quem puder" orçamental para que foram empurradas, vão
sobrevivendo ao naufrágio. E o mesmo se diga de algumas universidades
privadas, que mantêm cotação de exigência e rigor. (Uma sugestão ao ME:
já que o ensino superior é uma actividade empresarial "liberalizada",
por que não uma Bolsa de Valores Universitária? Assim, os alunos
saberiam o que compram ao matricular-se em certas universidades. Um
"outlet" para diplomas inúteis ou com defeito também não seria má
ideia.)
Há muita hipocrisia em tudo isto. Porque não "liberaliza" o
ME também os cursos de Medicina? Talvez porque, parafraseando Harold
Bloom a propósito da política de quotas nos EUA, o ministro não queira
ser um dia operado ao cérebro por um turbolicenciado à bolonhesa ou por
um mestre ou doutor "equivalentes".
«JN» de 13 Jul 12Etiquetas: MAP
3 Comments:
Como dizia um professor que tive na faculdade, um médico pode matar na hora, mas um mau planeador do território pode pôr em causa centenas de vida... A diferença é que o seu erro tem uma consequência que não é imediata...
Com isto quero dizer que nos livram de médicos mal formados, mas em todas as outras áreas somos bombardeados por pessoas com má formação universitária, a diferença no futuro talvez não seja assim tão grande...
Eu cá, pergunto: para quando o fim das "universidades independentófonas" e equivalentes?
Tenho um velho amigo que passa a vida a dizer que "O Deus 'mecado' acaba por resolver tudo".
Aplicada a este caso, a ideia dele é que uma universidade má forma maus profissionais, que não terão emprego, o que levará, no futuro, a que tenha menos estudantes. Haveria, assim, um mecanismo de regulação automático.
O problema é o tempo que medeia entre uma coisa e outra; neste caso, entre a escolha, pelo aluno, de uma má universidade e a consequência de não haver emprego decente para ele e seus colegas.
E, depois, ainda é preciso mais tempo para que essa informação se espalhe e tenha consequências na procura dessa escola.
Tudo isso pode levar muitos anos, fazendo com que o "Deus-mercado" não seja tão eficaz quanto será no caso de um restaurante que, se servir mal, perde fregueses no dia seguinte.
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