13.7.12

O "mercado" universitário

Por Manuel António Pina
ONTEM fui atendido numa caixa de supermercado por uma licenciada em Engenharia, área em que parece não faltar emprego. O seu problema, explicou-me resignada, era a universidade que lhe atribuíra o diploma...
Muitas escolas de ensino superior privado são hoje apenas negócios (e sem departamentos de pós-venda). Comercializam diplomas de "dr", de "mestre" e de "doutor por extenso" como poderiam comercializar frutas ou legumes. Com uma diferença: o sector das frutas e legumes é mais fiscalizado e os seus consumidores mais protegidos do que os do "sector" do ensino superior.
As universidades públicas, apesar do "salve-se quem puder" orçamental para que foram empurradas, vão sobrevivendo ao naufrágio. E o mesmo se diga de algumas universidades privadas, que mantêm cotação de exigência e rigor. (Uma sugestão ao ME: já que o ensino superior é uma actividade empresarial "liberalizada", por que não uma Bolsa de Valores Universitária? Assim, os alunos saberiam o que compram ao matricular-se em certas universidades. Um "outlet" para diplomas inúteis ou com defeito também não seria má ideia.)
Há muita hipocrisia em tudo isto. Porque não "liberaliza" o ME também os cursos de Medicina? Talvez porque, parafraseando Harold Bloom a propósito da política de quotas nos EUA, o ministro não queira ser um dia operado ao cérebro por um turbolicenciado à bolonhesa ou por um mestre ou doutor "equivalentes".
«JN» de 13 Jul 12

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3 Comments:

Blogger Sónia Martins said...

Como dizia um professor que tive na faculdade, um médico pode matar na hora, mas um mau planeador do território pode pôr em causa centenas de vida... A diferença é que o seu erro tem uma consequência que não é imediata...

Com isto quero dizer que nos livram de médicos mal formados, mas em todas as outras áreas somos bombardeados por pessoas com má formação universitária, a diferença no futuro talvez não seja assim tão grande...

13 de julho de 2012 às 14:21  
Blogger José Batista said...

Eu cá, pergunto: para quando o fim das "universidades independentófonas" e equivalentes?

13 de julho de 2012 às 15:11  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Tenho um velho amigo que passa a vida a dizer que "O Deus 'mecado' acaba por resolver tudo".
Aplicada a este caso, a ideia dele é que uma universidade má forma maus profissionais, que não terão emprego, o que levará, no futuro, a que tenha menos estudantes. Haveria, assim, um mecanismo de regulação automático.

O problema é o tempo que medeia entre uma coisa e outra; neste caso, entre a escolha, pelo aluno, de uma má universidade e a consequência de não haver emprego decente para ele e seus colegas.
E, depois, ainda é preciso mais tempo para que essa informação se espalhe e tenha consequências na procura dessa escola.

Tudo isso pode levar muitos anos, fazendo com que o "Deus-mercado" não seja tão eficaz quanto será no caso de um restaurante que, se servir mal, perde fregueses no dia seguinte.

13 de julho de 2012 às 17:40  

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