16.8.12

Reinventar a retrete

Por Ferreira Fernandes
O ASSUNTO é delicado. Tanto, que os franceses lhe chamam "WC", pretenso termo em inglês (de water-closet) que nenhum país anglófono usa, e os ingleses dizem "toilet", vindo do francês "toilette"... - enfim, ambos se escondem quando perguntam onde fica aquilo que, no fim do corredor, à esquerda, os livra de aflições. 
Vou falar de "casas de banho" (estão a ver?, também usamos eufemismos). Diz o Chicago Tribune que Bill Gates está interessado na, falemos claro, retrete. Na passada terça-feira, Gates anunciou que vai investir 6,5 milhões de dólares no seu projeto "O Desafio de Reinventar a Retrete". 
No mundo há 2,6 mil milhões de pessoas sem retrete e as nossas ficam-lhes demasiado caras em água e tratamento de esgotos. 
Em 1596, John Harrington, um poeta inglês, inventou o autoclismo. O poeta chamou ao tratado que descrevia a sua invenção "Novo Discurso sobre um Assunto Preso: Chamado a Metamorfose de Ajax" (repito, nunca foi fácil falar disto). Depois, em 1775, outro inglês, Alexander Cummings, um relojoeiro (o assunto sempre interessou gente de profissões delicadas), inventou o sifão. 
Ora, até agora, não houve mais nenhum contributo notável à sanita. Por isso o desafio de Bill Gates é extraordinário. Em francês antigo retrete chamava-se "cabinet d'aisance" - de "gabinete", como por exemplo dos ministros, e de "comodidade" que todos devem ter. Retomar e distribuir essa ideia para a humanidade inteira é de um homem nobre. 
«DN» de 16 Ago 12

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