18.9.12

Deixei de Acreditar neste Governo

Por Maria Filomena Mónica
NINGUÉM pode dizer que não tentei. É verdade que o fiz a custo mas, após a queda do engº Sócrates, decidi que o Executivo, qualquer que fosse, teria o meu apoio. Nem todo o «crescimento» é bom, como nem toda a «austeridade» é má. Nos últimos anos, «crescimento» significou, à cabeça, estádios de futebol, onde ninguém joga, fundações como a «Magalhães», que oferecia computadores, e obras em aeroportos, como o de Beja, onde não pousam aviões. Chegámos à situação caricata de sermos o país da Europa com mais auto-estradas per capita e uma população que não tem dinheiro para a gasolina.
Tentei aceitar a «austeridade», não porque goste de ver o país arrastando-se pela miséria, mas por estar consciente que de tal forma Portugal se endividara que não tinha outro remédio. Contudo, ao ouvir o mais recente discurso do Ministro das Finanças, a minha resignação foi substituída pela fúria. Depois de ter perdido mais de 30% na reforma, eis que Vítor Gaspar veio anunciar, com aquele seu arzinho de professor catedrático, que me iria retirar mais 10%.
Trabalho desde os 19 anos, fiz uma licenciatura como trabalhadora-estudante e, após uma das mais dolorosas decisões da minha vida, doutorei-me numa prestigiada Universidade estrangeira. Ao longo de quarenta anos, descontei para a Caixa Geral de Aposentações, na convicção de que, ao chegar o dia, usufruiria de uma boa reforma. Enganei-me.
Como se isto não bastasse, há a questão do aumento nos impostos. Nunca contra eles protestei, por considerar que tinham uma função redistributiva: era justo que os ricos dessem uma parte do seu rendimento aos que menos tinham, quando estes se encontrassem doentes ou desempregados. Estava à espera que Vítor Gaspar anunciasse, não só o que me iria retirar, mas o que aconteceria aos ricos a sério, isto é, às pessoas que vêem os seus rendimentos aumentar todos os anos com base nos contratos feitos com o Estado, as chamadas Parcerias Público-Privadas.
Além de não oferecerem risco, as PPP permitem que os privados obtenham elevadas taxas de remuneração do capital. Demonstrando o tipo de empresários que por cá existe, o país tornou-se rapidamente no líder europeu deste tipo de negócio. Enquanto, de um lado, os lucros se acumulavam, do outro, os cofres públicos esvaziavam-se. Segundo Carlos Moreno, em 2009, a estimativa dos encargos, assumidos e previstos assumir, pelo Estado, no domínio das infra-estruturas de transporte rodoviário e ferroviário e na área da saúde, é de cerca de 50 mil milhões de euros. A pagar por nós, pelos nossos filhos e pelos nossos netos.
Sendo isto assim, como aceitar que quem ganha mais de cem, mais de mil, mais de um milhão de vezes o que aufiro se mantenha alheio a um esforço que se diz colectivo? Para que uma sociedade funcione, não bastam truques contabilísticos, é preciso que os cidadãos sintam que há uma base moral para o que lhes é exigido. Não, sr. Ministro, não estou disposta a fazer mais sacrifícios.
«Expresso de 15 Set 12
                       

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4 Comments:

Blogger José Batista said...

Gostaria de ter escrito este artigo.
Só emendava o título, para ser rigoroso, porque não acreditei globalmente neste governo, como não acreditei no anterior nem no anterior ao anterior..., etc.
Mas isto não é uma crítica, porque gostava de acreditar que para além da cambada de políticos e governantes que, em tempos de democracia formal (só formal...), conduziram o país até aqui, há homens e mulheres dignos e competentes que são capazes de ter mão nisto. Como pudemos não os ter aproveitado? O que devemos fazer para os colocar onde deviam estar, e ter estado?
Medina Carreira "gritou" e chamámos-lhe louco ou ignorámo-lo.
Da escola fizemos uma aberração.
Não só caminhámos para o buraco como diminuímos as possibilidades de sair dele. Agora, "chorar" adianta pouco.
Onde estamos? Para onde vamos? Como vamos? Com "quem" vamos?
Ou deixamo-nos levar, como sempre fizemos?
Estas questões é que me atormentam...

18 de setembro de 2012 às 10:09  
Blogger Laura Cachupa Ferreira said...

Velha tonta:

"após uma das mais dolorosas decisões da minha vida, doutorei-me numa prestigiada Universidade estrangeira"

"Depois de ter perdido mais de 30% na reforma, eis que Vítor Gaspar veio anunciar, com aquele seu arzinho de professor catedrático, que me iria retirar mais 10%"

Tem uma reforma, ou tinha, de mais de 4500 euros/mês. Os cortes ficaram-lhe atravessados.

Velha tonta, e diz-se esta gaja doutorada numa prestigiada universidade estrangeira.
Devia ter-se doutorado na universidade do Relvas, que já nem dava pelos cortes nas pensões

18 de setembro de 2012 às 10:12  
Blogger Bmonteiro said...

«Não, sr. Ministro, não estou disposta a fazer mais sacrifícios»
Pois.
Que esperava, depois do «delinquente político» herdeiro dos proxenetas políticos pós D. Sampaio I o Mole e da sua solução?
Para não irmos mais longe.
Em Belém, um atentado à cultura portuguesa.
Para não irmos à economia.
«Somos assim», conforme o especialista em "Devoristas" dos éculo XIX (VPV).
Nada a fazer, ou Que Fazer?

18 de setembro de 2012 às 18:56  
Blogger David said...

Embora goste de a ouvir falar, acho que a senhora é uma cagona, porque uma pessoa doutorar-se no estrangeiro é uma masturbação científica que em nada contribui para a produtividade de um país...

23 de setembro de 2012 às 00:17  

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