Sair da crise à pedalada
LERAM a reportagem do Público, ontem, sobre Noca, o "alfaiate de
bicicletas"? Meia dúzia de Noca, e saíamos da principal crise, a
descrença.
Dinis Ramos, Noca, é designer, vive na Gafanha da Nazaré,
terra plana, de bicicletas. Ele teve sempre uma, na garagem dos pais. Um
dia, pôs-se a olhar para aquela coisa sempre igual e deu a pedalada da
sua vida: inventou um guidão original, pintou o quadro de cor única,
acrescentou um toque no pedal... Ao longo do tubo maior do quadro,
escreveu: "Concept by Noca."
Evidentemente toda a gente gostou, muitos
fizeram perguntas e alguns quiseram também uma bicicleta assim, uma
"Concept by Noca." Eu explico o "evidentemente" (não sei ajustar um
selim, mas as evidências nunca me escapam). Apesar de só ter sido
inventada no princípio do séc. XIX, os conceitos que fazem uma bicicleta
são conhecidos desde a Idade Média. É um mistério o seu aparecimento
tardio e é outro mistério a sua resistência às novidades tecnológicas - e
esses dois mistérios convivem com a sua principal característica: é
simples. Simples como o pão e com futuro como o pão. O que restava fazer
com ela, o Noca fez, fê-la única. E é assim que já chovem encomendas do
estrangeiro.
Percebi nas palavras do Noca um toque de artista, ele
querer fazer uma a uma, as suas bicicletas. Eu preferia que ele fosse
mais ambicioso, mesmo como artista, e se tornasse um grande industrial.
Como aquele alfaiate, o Yves Saint Laurent.
«DN» de 25 Set 12 NOTA (CMR): encontrar uma imagem para ilustrar esta crónica não foi tão fácil como eu esperava. A primeira que me apareceu foi esta, datada de Agosto de há 2 anos.
Etiquetas: autor convidado, F.F
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