26.10.12

Publique-se a lenda

Por Ferreira Fernandes
UMA PEDRA de 40 toneladas veio num glaciar e foi depositada na foz de um rio americano, há 13 mil anos. Isso é história de pedras. Como história de homens, o bloco de arenito tem marcas cinzeladas - um mistério. 
Um reverendo viu nelas, em 1690, palavras de Deus. 
Um conde francês, em 1781, sinais de fenícios. 
Em 1837, um professor dinamarquês, Carl Rafn, leu lá a saga do viking Thorfinn. Até os números romanos "CXXXI" confirmavam os companheiros do viking, 151. Mas CXXXI não é 131? Homens de pouca fé, em nórdico antigo "C" vale por dez dúzias, 120, o que somado ao resto dá os tais 151... 
Entretanto, o objeto da controvérsia, depositado no rio Tauton, no Massachusetts, EUA, já era conhecido como pedra de Dighton. 
Em 1918, o americano Edmund Delabarre notou que as inscrições, afinal, diziam em latim, "1511" e "Miguel Corte-Real, pela vontade de Deus, aqui chefe dos índios" e tinham cruzes de Cristo e quinas. 
Escrito na pedra é como ler na água, é o que os homens quiserem. 
Miguel, filho de João Vaz Corte-Real, de quem se diz que chegou à América 20 anos antes de Colombo. Irmão de Gaspar que partiu e não voltou, Miguel também partiu e nada mais se soube dele até aquela pedra lhe ter, talvez, revelado o destino. 
No domingo, morreu, aos 86 anos, o médico Manuel Luciano da Silva, o português que mais fez pela versão portuguesa da pedra de Dighton. Há quem diga que ele divulgou uma ilusão. Eu digo, abençoados os homens das lendas. 
«DN» de 26 Out 12

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