As jóias de estimação
Por Joaquim Letria
HÁ DOIS anéis que custa muito aos portugueses desfazerem-se deles para ficarem com os dedos: a TAP e a RTP.
Uma
e outra são verdadeiros símbolos e instrumentos do nosso ser colectivo,
do nosso orgulho nacional, ambas indissociáveis do nosso conceito
nacional. Não têm a ver com a EDP, a REN e a Ana, outras jóias de
família que já fomos deixar no prego para comermos fiado mais algum
tempo. A TAP e a RTP são diferentes. São também jóias de estimação, mas
estas já eram de estimação da avó e da mãe.
Vender
agora, é vender ao preço da uva mijona, o que ainda custa mais, não
fora essa, ao que nos dizem, uma necessidade absoluta. É pior do que
penhorar para dar a sopa aos filhos. É ceder a prestamistas, mostrar o
rabo a agiotas, facilitar a amigos, dar dinheiro por obséquio sem
perguntar aos verdadeiros donos se autorizam, se acham o preço certo, se
concordam com a política do “vão-se os anéis, mas fiquem os dedos”.
A gente até estaria disposta a fazer maiores sacrifícios se
soubéssemos para quê, se acreditássemos nos vendedores e se confiássemos
nos prestamistas. Mas a verdade é que, para mal dos nossos pecados, até
há negócios destes em que confiamos mais nos credores…
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