5.3.13

'Cum clave' 'ma non troppo'

Por Ferreira Fernandes
ANTES de serem fechados com chave (cum clave), alguns cardeais têm tido ocasião de mostrar que aprenderam com Denis Papin, que não foi papa, estudou nos jesuítas e se tornou calvinista. O cardeal emérito de Salvador da Baía, brasileiro D. Geraldo Majella Agnelo, disse: "Se houve uma comissão e foi apresentado um parecer, nós vamos querer saber." E o mesmo disse o cardeal de Durban, o sul-africano D. Wilfrid Napier: "Teremos de ter alguma informação sobre esse assunto." 
Falavam ambos do relatório que terá sido mostrado a Bento XVI e fez este renunciar, assustado por escândalos no Vaticano. São vozes ainda isoladas mas notáveis por anunciarem publicamente um incómodo que, tempos atrás, não sairia das paredes milenárias da Santa Sé. Aliás, é este contraste com o estanque que nos remete para Denis Papin. Este físico francês inventou em 1679, em Londres, o "Digestor", uma caldeira de ferro tão forte como os muros do Vaticano, com um poderoso tampo como a cúpula de São Pedro, seguro por parafusos firmes. Lá dentro, antes de levar a lume forte, um pouco de água. O inevitável seria uma explosão, não fosse uma válvula de segurança que controlava a pressão. Estava inventada, para efeitos científicos, a autoclave, para almoço rápido, a panela de pressão, para a locomoção sem cansar músculos, a máquina a vapor. Para efeitos históricos estava inventada a escapatória das sociedades hermeticamente fechadas: deixem-se disso.
«DN» de 5 Mar 13

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