15.3.13

“Grátis não trabalho”

Por Joaquim Letria
HÁ UMA confusão grande no mundo da Informação. Muitos jornalistas lamentam a sua perda de influência acusando a falta de investimentos publicitários, o que certamente, não justifica tudo, enquanto outros parecem aturdidos sem perceberem o que está a acontecer; Uns e outros parecem animar-se com um único facto, mas muito enganador – se ainda não se publicou a notícia da grave crise do jornalismo, é porque esta não existe. 
A solução escolhida até agora é errada. Dizimar as empresas e aplicar austeridade não vai resolver nada nem salvar ninguém, tal como campanhas publicitárias institucionais nunca ajudaram quem quer que fosse. A pouco e pouco, vamos ver servirem-se do jornalismo de indignação, passando também os escândalos a figurarem no receituário do chamado jornalismo de referência. Entretanto, legiões de jornalistas desprotegidos e sem favores buscam sobreviver de traduções e colaborações episódicas, porque colaboradores avençados e o privilégio de ser regularmente explorado é território de muito pouca gente, enquanto os outros vêem os soldos diminuírem e os salários desaparecerem.
Em Espanha, há muito pouco tempo, a “Associação de Imprensa” teve de fazer uma campanha onde se dizia “Grátis não trabalho”, o que por si só diz tudo…
Mas a verdade é que quando um jornalista só encontra trabalho não remunerado, pode dedicar-se ao trabalho em que mais acredita e no qual se revê, mesmo que não seja rentável. O embaratecimento dos custos também permite a cada um o empreendimento dum novo projecto através do qual se pode prestar um serviço à sociedade. Os outros, deixá-los! Aproximaram-se tanto do Poder que agora ardem com ele e ainda vão passar muito tempo a lembrar porque é que o jornalismo é imprescindível à Democracia. Ah! pois é…

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