12.3.13

"Assim não vamos lá, Carlos!", dizia o grande Cristiano

Por Ferreira Fernandes 
ONTEM participei no Congresso Internacional sobre a Crise Europeia e o Bigode Que os Outros Nos Dão. Curso intensivo, durou dez minutos. Local esplendoroso, o Coliseu de Roma. Duas partes distintas - balanço do desastre europeu e perspetiva dos tigres asiáticos - mas em exposições simultâneas. O pano de fundo era o muro do Coliseu com mármores desenhando o Mare Nostrum, a lembrar que com o tempo o império foi grande, da Ibéria à Arménia, ou minguava até às muralhas da cidade. A mensagem do congresso, pois: nada está sempre garantido. 
Dito isto, vamos às intervenções. 
A negativa constava de italianos a fazer de centuriões. Punham-se ao lado da turista fotografada pelo marido e depois exigiam 20 euros pela pose. Se os turistas reclamavam, desciam para 10, mas daí não passavam, agressivos. Se é que se pode ser agressivo quando o gládio é de pau mal pintado e os peitorais da armadura em plástico. Um centurião, em vez de sandálias, tinha ténis e, noutro, a crista do elmo fora feita por pelos de uma vassoura. Não havia procura para aquele produto manhoso e os símbolos de um passado glorioso andavam para ali de olhar infeliz. 
Entretanto, a multidão cercava uma estátua viva. De facto, dois paquistaneses. Um, com veste açafrão de monge, estava sentado, tinha o "mala" (o terço budista) na mão esquerda e, com o braço direito estendido, empunhava uma haste vertical, sobre a qual, suspenso, outro monge se sentava. Todos os congressistas estavam maravilhados. Como é que um homem, imóvel, de braço estendido como que segurando um facho, aguentava o peso de outro homem? Havia ali certamente truques. Mas o mais importante era este: aqueles dois, para terem sucesso, pensaram. Eu deitei uma nota de cinco euros para o cesto dos dois tigres asiáticos.
«DN» de 12 Mar 13

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