Jorge Coelho
Por Baptista-Bastos
NO TABLADO de Viseu, onde o PS organizou um comício de apoio a José
Junqueiro, certo facto sobrelevou todos os outros: o reaparecimento de
Jorge Coelho. Tonitruante, fogoso e convicto reduziu a subnitrato o
Governo, disse que se sentia muito bem com o regresso e foi
calorosamente aplaudido, acaso muito mais do que o secretário-geral,
Seguro. Se na vida não há coincidências, em política a ingenuidade e a
candura são inexistentes. Jorge Coelho, como prometeu, não vai ficar por
ali. E o confronto entre o estilo almofadinha de Seguro e a veemência
retumbante de Coelho é mais do [que ]provável porque inevitável.
Apesar
dos despautérios criminosos do PSD, das monstruosidades sociais do
tandem Passos-Gaspar, o PS de Seguro não erradica de uma mediocridade
constrangedora, e o que o separa do adversário são uns módicos e
irrelevantes pontos. A aptidão de Seguro em servir-se de uma água
chilra, diz que faz e não faz, que vai e não vai, fatigou os seus
"camaradas", animados em conspirações e intrigas, e enfadou todos
aqueles, insatisfeitos e decepcionados, que começaram a ver nele uma
espécie de caixeiro de loja de caixões, fúnebre e sorna.
Jorge
Coelho vai simplesmente animar a morna narrativa deste PS,
desinteressante e lutuoso, ou, pelo contrário, o seu propósito e de quem
o foi desencantar estão mais para além? Todas as conjecturas são
justificáveis por plausíveis.
Em qualquer dos casos, tanto Passos
como Seguro têm de se acautelar. Dando-se o caso de Jorge Coelho
insistir em "que se sente bem": voltar aos comícios e usar o discurso
tribunalício que o definiu, as mentirolas e as imposturas de Passos vão
encontrar respostas de bulldozer, e até agora mansas e frívolas. Por seu
turno, Seguro terá de abandonar as ambiguidades de uma intervenção que
nem sequer belisca a acção governamental, ou será irremediavelmente
trucidado, pela específica natureza das coisas. Jorge Coelho, cuja fibra
e gosto da escaramuça, estabelece melhor a clivagem entre o que deve
ser feito e as prudências do silêncio é, de longe, o mais preferido, nas
circunstâncias actuais - e mesmo em outras.
Este PS não é carne,
nem peixe, nem arenque vermelho; ignora-se, mesmo, a ideologia em que se
escora; e esse hibridismo não é, necessariamente, apenas resultado das
imposições da Europa, particularmente da Alemanha e da política
hegemónica que lhe subjaz. O inesperado "reaparecimento" de Jorge Coelho
não é um episódio isolado, desprovido de qualquer significado - nem
pessoal nem dissimulado. Porquê agora, altura em que os efeitos desta
lógica podem levar mais convulsões ao conhecido mal-estar existente no
PS? Por outro lado, ante as exigências da troika, que pode fazer um
governo servil?, sem brio e sem grandeza, e cuja deformidade ética, as
violentas críticas, os sarcasmos sulfúricos e os protestos constantes
transformaram numa indignidade histórica.
«DN» de 20 Mar 13 Etiquetas: BB
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home