20.3.13

Jorge Coelho

Por Baptista-Bastos
NO TABLADO de Viseu, onde o PS organizou um comício de apoio a José Junqueiro, certo facto sobrelevou todos os outros: o reaparecimento de Jorge Coelho. Tonitruante, fogoso e convicto reduziu a subnitrato o Governo, disse que se sentia muito bem com o regresso e foi calorosamente aplaudido, acaso muito mais do que o secretário-geral, Seguro. Se na vida não há coincidências, em política a ingenuidade e a candura são inexistentes. Jorge Coelho, como prometeu, não vai ficar por ali. E o confronto entre o estilo almofadinha de Seguro e a veemência retumbante de Coelho é mais do [que ]provável porque inevitável.
Apesar dos despautérios criminosos do PSD, das monstruosidades sociais do tandem Passos-Gaspar, o PS de Seguro não erradica de uma mediocridade constrangedora, e o que o separa do adversário são uns módicos e irrelevantes pontos. A aptidão de Seguro em servir-se de uma água chilra, diz que faz e não faz, que vai e não vai, fatigou os seus "camaradas", animados em conspirações e intrigas, e enfadou todos aqueles, insatisfeitos e decepcionados, que começaram a ver nele uma espécie de caixeiro de loja de caixões, fúnebre e sorna.
Jorge Coelho vai simplesmente animar a morna narrativa deste PS, desinteressante e lutuoso, ou, pelo contrário, o seu propósito e de quem o foi desencantar estão mais para além? Todas as conjecturas são justificáveis por plausíveis.
Em qualquer dos casos, tanto Passos como Seguro têm de se acautelar. Dando-se o caso de Jorge Coelho insistir em "que se sente bem": voltar aos comícios e usar o discurso tribunalício que o definiu, as mentirolas e as imposturas de Passos vão encontrar respostas de bulldozer, e até agora mansas e frívolas. Por seu turno, Seguro terá de abandonar as ambiguidades de uma intervenção que nem sequer belisca a acção governamental, ou será irremediavelmente trucidado, pela específica natureza das coisas. Jorge Coelho, cuja fibra e gosto da escaramuça, estabelece melhor a clivagem entre o que deve ser feito e as prudências do silêncio é, de longe, o mais preferido, nas circunstâncias actuais - e mesmo em outras.
Este PS não é carne, nem peixe, nem arenque vermelho; ignora-se, mesmo, a ideologia em que se escora; e esse hibridismo não é, necessariamente, apenas resultado das imposições da Europa, particularmente da Alemanha e da política hegemónica que lhe subjaz. O inesperado "reaparecimento" de Jorge Coelho não é um episódio isolado, desprovido de qualquer significado - nem pessoal nem dissimulado. Porquê agora, altura em que os efeitos desta lógica podem levar mais convulsões ao conhecido mal-estar existente no PS? Por outro lado, ante as exigências da troika, que pode fazer um governo servil?, sem brio e sem grandeza, e cuja deformidade ética, as violentas críticas, os sarcasmos sulfúricos e os protestos constantes transformaram numa indignidade histórica.
«DN» de 20 Mar 13

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