Olha, também se castiga a poupança...
Por Ferreira Fernandes
A NOSSA crise tinha uma explicação simples: gastávamos demasiado. Há dois anos, o candidato a primeiro-ministro de Portugal ensinou-nos que tínhamos uma culpa a expiar, como eu escrevi então: "Esta semana, Passos Coelho encontrou um turista finlandês num restaurante. E, para ilustrar a situação em que estamos, contou aos jornalistas que o turista lhe lançou: 'Espero não ser obrigado a pagar-lhe o jantar...' Fiquei espantado por nenhum jornalista ter perguntado a Passos: 'E o senhor para onde mandou o finlandês?'"...
Fomos, pois, esbanjadores e devíamos rasar os muros como um inquilino caloteiro ao passar pelo senhorio. Passos, com compreensão dos jornalistas, mostrava-nos o caminho: de consciência aguilhoada pelas almoçaradas do passado. Havia, claro, portugueses poupadinhos, porque todo o pecado só faz sentido confrontado com a virtude, mas eram poucos. Ora, é a esses que trago a novidade: os poupados não foram poupados e também estão sujeitos a castigo. Por enquanto é só em Chipre, mas isto é moda para viajar como nós antigamente para Punta Cana. Quem meteu no banco nem por isso se salvou: 20 mil euros de poupança levam com um imposto de 3,5 por cento (e esteve para ser o dobro)...
Moral da história: em vez de bancos, guardar o dinheiro debaixo do colchão. Não se garante o slogan de O'Neill ("com colchões Lusospuma, dá duas que parecem uma"), mas pelo menos não lhe apontam o dedo por ter andado a poupar.
«DN» de 19 Mar 13 Etiquetas: autor convidado, F.F
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