'Habemus papam' de tipo novo
Por Ferreira Fernandes
AMANHÃ o novo Papa aparecerá aos fiéis na Praça de São Pedro para o Angelus das seis da tarde. A expectativa é grande, a praça estará cheia dos que vêm tentar confirmar a imagem deixada pelo suave "Boa noite!" da bênção depois da eleição e por três dias de notícias, comentários, fotos e vídeos que o Vaticano tem divulgado. A tónica tem sido mostrar como o Papa Francisco é modesto, austero, simples, enfim, um filho daquele que o inspirou no nome, S. Francisco de Assis, Il Poverello.
Se fosse uma campanha de marketing não era mais bem engendrada.
O padre Lombardi, que dá briefings diários, já avisou que a máquina do Vaticano se terá de habituar ao novo estilo. Começou ontem: no discurso que fez aos cardeais, Bergoglio fez tantas alterações ao que escrevera que os serviços de imprensa retardaram o comunicado, habitualmente simultâneo. A frase sobre a velhice dos cardeais, que o Papa comparou à do vinho, não estava no programa, e tornou-se o sound bite da tarde.
O Papa Francisco tinha pedido aos cardeais que ontem se reuniram com ele - todos e não apenas os 115 eleitores - para usarem as batas negras em vez das vermelhas normais nestas ocasiões. Bergoglio já mostrara antipatia por estas vestes espampanantes quando foi nomeado cardeal por João Paulo II e se recusou a comprá-las por seis mil euros, em Roma. "Um luxo inútil", disse. E pediu à irmã que lhe costurasse umas. Os cardeais apareceram na Sala Clementina todos de negro - exceto os solidéus vermelhos - para ouvirem o novo líder chamar-lhes familiarmente "irmãos cardeais" e chegar-se a eles de pé nos cumprimentos. Do cardeal sul-africano Napier, Bergoglio aceitou uma pulseira da fé, amarela, que pôs no pulso. E com os dois papabili de dias antes, o cardeal filipino Luis Tagle, e o norte--americano Timothy Dolan, demorou-se. Trocou confidências, gargalhadas e o arcebispo de Nova Iorque pôs-lhe a mão no ombro. Podem ser apenas sinais, mas num lugar simbólico como o Vaticano, onde tantas vezes o estilo marca a substância, estão a fazer prever uma mudança.
«DN» de 16 Mar 13 Etiquetas: autor convidado, F.F
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