18.3.13

Um papa híbrido

Por Joaquim Letria
FOMOS habituados a estarmos divididos entre a preservação do melhor do nosso passado, das nossas tradições, das práticas culturais, crenças e preconceitos e, ao mesmo tempo, ficarmos repartidos entre tudo aquilo que conhecemos para trás e o desconhecido da mudança, do futuro e do progresso. 
Para uma religião com dois mil anos de História, esta é uma questão de grande importância, em especial para todos os membros da instituição que a promove e defende. Francisco, o novo Papa, é apresentado como um ser profundamente conservador, recusando a mudança no que se refere ao casamento, ao sexo e ao aborto, mas mostrando-se profundamente sensível em tudo que tem a ver com os problemas sociais, o que faz do novo papa um híbrido. 
Jesus foi contra o julgamento, a exclusão e o castigo, mas os seus sermões, em particular o da montanha, são vistos como uma palavra de esquerda, porque comprometida com os pobres, os amantes da paz e das boas aventuranças, enfim com todos aqueles com condições para entrarem no reino dos céus.
Possivelmente, fazer com que os bons pensamentos de Jesus nos sirvam e nos acompanhem no século XXI pode bem ter atravessado o espírito de alguns dos cardeais que escolheram Jorge Bergoglio para Francisco I. Pessoas daquela idade e com aquela experiência de vida tendem a preocupar-se mais com o longo prazo e com as coisas eternas.
Nós, simples humanos, observamos tudo isto e reflectimos acerca do que nos rodeia e gostaríamos de preservar a religião que diz respeito a cada um de nós, qualquer que ela seja, defendendo-a dos assaltos do consumismo e do materialismo que tanta injustiça têm espalhado à nossa volta.

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