Ainda há duas portuguesas felizes
Por Ferreira Fernandes
O QUE É uma mentira? Uma necessidade, para fintarmos as nossas limitações e faltas. Fizeste os deveres? Sô professor, eu fiz, mas ao vir p'ra escola um cão fugiu-me com o caderno. O carro está pronto? Está, mas falta vir uma peça do armazém. Andas com ela? Credo, só tenho olhos para ti...
Uma mentira é sempre um pedido de socorro. Fizeram bem os que mandaram comunicados falsos do Governo, no 1.º de abril, ao se darem por nome Mayday Lisboa.
"Mayday", pelo Código Internacional de Sinais, lançam os dos barcos a naufragar e os dos aviões a cair. "Ajudem-me", "ajudem-me", era o que diziam, afinal, os comunicados falsos, assinalando coisas que o Governo estaria a fazer, contratar professores, enfermeiros, isto e aquilo, quando a época é mais de nem isto nem aquilo.
Logo no dia seguinte o Governo desmentiu e os do Mayday Lisboa assumiram a autoria desiludida.
Eis o que define bem os nossos tempos: o 1.º de abril, porque de mentiras, passa a ser o único dia em que os portugueses podem ter ilusões... O dia 2 e seguintes já são para ser vividos na vil tristeza. Por todos? Não! Ainda ontem, a 3 de abril, na comissão parlamentar de Saúde, duas deputadas, Isabel Galriça (CDS-PP) e Laura Esperança (PSD), recusaram esmorecer. Discursaram elas a Paulo Macedo: "Sr. ministro, parabéns por contratar 600 novos enfermeiros!" Tinha sido a notícia do Mayday... Caridoso, o ministro não desmentiu, deixou-as viver felizes mais uns instantes.
«DN» de 4 Abr 13 Etiquetas: autor convidado, F.F
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