6.4.13

Um coro grego no anúncio da tragédia

Por Ferreira Fernandes
FAZER render o nosso poder, todos nós queremos. Mesmo os juízes do Tribunal Constitucional, os que mais merecem os olhos vendados da Justiça, tributo à imparcialidade, capazes de mandar para o galheiro a Pátria, se a tal ditar a lei. Até eles gostam de aparecer no começo do telejornal e ter um share só ao alcance do Benfica. Então, às 19.20, convocam: daqui a 45 minutos, dizemos se Portugal fecha ou não... Contas feitas, bateria pelas 20.05, no pleno dos telejornais! Querer aparecer, queriam, mas, de horas, que são números, os juízes, népias. Números, eles só conhecem os dos artigos da Constituição, e são-lhes estranhos, por exemplo, os 640 milhões daqui e 150 milhões dali que, se eles vetarem, vão ter de ser encontrados noutro sítio, que não há. Sem jeito, pois, para números, só apareceram três meses e uma hora depois para o tão aguardado. E às 21, como coro grego anunciando a tragédia, disseram que, sem olhar a consequências, adequaram o Orçamento ao que exige a Constituição - não é questão menor, ainda bem que temos um tribunal para o fazer. Nos estúdios, os especialistas quantificaram as decisões e soubemos que vai faltar-nos mais ou menos 1300 milhões e que isso é mais do que podemos. 
Mas não são essas magnas questões que para aqui trago - nem a primazia da Constituição, nem o estarmos tramados. Quero é dar conta desse momento deliciosamente fútil de tão poderosos juízes terem querido aparecer em prime-time.
«DN» de 6 Abr 13

Etiquetas: ,

1 Comments:

Blogger brites said...


Há sempre um alvo para malhar...
A forma é acessória em certas circunstâncias.

Espanta-me a sua preocupação, qdo. se farta de bater,com razão, na política geral do governo, metaforicamente ou de forma mais direta e concreta.

O QUE FAZEMOS E DIZEMOS NÃO SE EVAPORA...

6 de abril de 2013 às 10:08  

Enviar um comentário

<< Home