Cavaco Silva e o insulto do cronista
Por Ferreira Fernandes
QUEM
não se sente não é filho de boa gente. Cavaco Silva tem razão em
indignar-se por aquilo que um cronista fez publicar ontem num jornal.
Uma coisa é criticar, e todos somos passíveis de que não gostem de nós,
mesmo injustamente. Mas há palavras e palavras. Pode dizer-se que Cavaco
Silva não é brilhante a falar e que se engasga em público mais do que
seria de esperar num político. Mas não se pode dizer aquilo. Quer dizer,
poder dizer, pode-se: em matéria de opinião, pode dizer-se tudo. Mas
isso em conversa de tribunal, onde a liberdade de opinião (e felizmente)
está defendida. Dito isto, não se diz aquilo que foi dito e publicado,
ontem, sobre Cavaco Silva. Uma coisa é chamar-lhe "burlesco" ou "cómico"
ou qualquer outra palavra similar, tanto essas palavras estão -
infelizmente, mas é assim - conotadas com os políticos. Mas o que o
cronista disse ontem fere o homem público no âmago do que ele faz,
desqualifica-o na sua função: "Sozinho, completamente sozinho, o dr.
Cavaco Silva conseguiu arruinar a Presidência da República. A
Presidência da República não tem hoje autoridade, influência ou
prestígio", foi dito por Vasco Pulido Valente, ontem, e publicado no
Público. É opinião e eu já disse aqui várias vezes que processar uma
opinião é como tentar caçar o vento. Só enobrece Cavaco não ter
perguntado ao Ministério Público se há ou não matéria para processo no
maior insulto que lhe fizeram esta semana.
«DN» de 25 Mai 13 Etiquetas: autor convidado, F.F
1 Comments:
Como sempre, um ponto de vista sensato, além de muito bem escrito, do jornalista Ferreira Fernandes.
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