Palhaço?
Por Pedro Barroso
PALHAÇO?... palhaço era o meu querido Raul.
Trapalhão, gago, inventivo, genial nas horas, certeiro na seta acerada e
pronta da critica mordaz.
Esse sim sempre habitou Belém, como eu, que sofro do mesmo mal do coração.
Palhaço era o Luciano, honrado funileiro de profissão com quem
ainda actuei na Serra da Estrela um dia - era ele um velho senhor com
mais de oitenta anos já, de uma honradez e humildade imensa. E me
explicou de onde vinha o termo "augusto soiree". Hoje "palhaço" -
profissão de fazer rir. ...e também era do Belém...
Palhaço era o Añuka, no Coliseu da minha infância, que nos fazia
rir e ganhava sempre em esperteza aos palhaços ricos de cara pintada.
Palhaço era Popov, que, com um simples uivo denunciava o abuso, soltava a imaginação e despoletava o riso e a ternura.
Palhaço sou eu; são os artistas todos do mundo, cada vez que sobem a
um palco e se expõem no que pensam; e circunstanciam o verbo à
inteligência possível e dobram as palavras sentidas do poema e tocam as
tangências sensíveis da harmonia.
Mas o simples facto de habitar Belém ainda não é suficiente para atingir essa dignidade.
Não ofendam os palhaços.
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