"A minha mãe é uma gaja do caraças"
Por Ferreira Fernandes
JÁ SE FALA da "nova forma de terrorismo", dos lobos solitários, jihadistas
com armas da cozinha. Depois dos chechenos das panelas de pressão, em
Boston, os dois terroristas de Londres que despedaçaram um soldado na
rua, a golpes de cutelo.
No terrorismo sempre houve os que dão o corpo
ao manifesto e os terroristas armados de boca, gente geralmente
resguardada - no caso de Londres, lá apareceu o pregador muito
surpreendido com a ação dos seus filhos espirituais... Essa novidade dos
lobos solitários é só formal, mas alimentou a costumeira reação
defensiva: como os métodos são domésticos, as pessoas comuns sentem-se
mais em perigo. Medo, pois. Ora, precisamente, aconteceu em Londres uma
novidade a sério: nem todas as potenciais vítimas foram comandadas pelo
medo. Ingrid Loyau-Kennett, de 48 anos, ia de autocarro, viu o corpo do
soldado e saiu. Pensava ser um acidente, ia dar ajuda, mas logo
percebeu: pôs-se a falar com o terrorista das mãos ensanguentadas. Há
foto: ela de pé e o terrorista de faca. "Queria afastá-lo das outras
pessoas", explicará ela depois. Mais duas mulheres agiram da mesma
forma. Quando veio a polícia, Ingrid meteu-se no autocarro e foi-se
embora. O filho reconheceu-a pelas fotos e escreveu no Twitter: "My Mum
is a motherfucking badass" (traduzo com cautelas: "A minha mãe é uma
gaja do caraças"). Ela e as outras duas, a novidade. Tresloucados sem
medo já havia. A novidade é a coragem do lado certo.
«DN» de 27 Mai 13 Etiquetas: autor convidado, F.F
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