26.5.13

A Alemanha tem de mudar de Wagner

Por Ferreira Fernandes
PENSANDO na célebre frase do ministro das Finanças alemão Schäuble ("A União Europeia é uma coisa simples, 27 países a tentar fugir da austeridade durante 90 minutos, e no fim ganham sempre os alemães"), ontem vi o B. Dortmund-Bayern na final da Champions. Em ópera eles são bons. No palco de Wembley, neste ano de bicentenário de Verdi e de Wagner, nenhuma equipa latina e duas alemãs. A Europa cantada num hectare de relva. Entrou o Dortmund e foi como se ouvíssemos o seu treinador Jürgen Klopp, com a voz de baixo-barítono do personagem Wotan: "Quando os poderes audaciosos se enfrentam, eu aconselho a guerra", na ópera A Valquíria
Abriu-se, pois, com a cavalgada das valquírias, poderosas e sem cordialidade. Os outros, os do Bayern, são mais conhecidos pela ópera ligeira, até mesmo música de cabaré, por muito que nos custe imaginar o Ribéry com as pernas da Marlene Dietrich. São mais jeitosos, quase latinos, como prima-donas. Mas o Dortmund impôs o seu jogo germânico até aos adversários e no segundo ato já eram anéis de nibelungo dos dois lados: movimento, drama, vontade. Admirável de ver (ganda jogo!, gritava o plebeu que há em mim quando desligava a música clássica). 
Viva, então, o sistema alemão? Não, empatou todos. Como resolver, insistir nas cavalgadas? Não, mudar de Wagner: passou-se para a sua ópera O Holandês Errante, sobre a redenção do amor. No último minuto, o holandês errante Robben resolveu. Com um toque subtil.
«DN» de 26 Mai 13

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