13.6.13

Esta Lisboa que eu amo

Por Ferreira Fernandes
FAZ AGORA dez anos. O designer Jorge Silva, alfaiate de jornais e capas de livros como o outro era marceneiro, apanhou um convite no ar da Câmara de Lisboa e atirou-se ao mar. Quer dizer, foi à espinha da coisa. Pegou numa óbvia e vulgar sardinha da Praça da Ribeira, prateada mas humilde, deitou-a num scanner e scaneou-a toda. Nasceu dali um ovo de Colombo: as Sardinhas das Festas de Lisboa. Desde então, 2003, quando se aproxima junho, não há ano em que não me irrite, como me irrita quando pego num clip: porque não fui eu a inventar esta bela evidência?! Numa cidade cheia de marcas antigas - a voz de Hermínia, a paixão de um Vasco por franjas, uma página de Nuno Bragança indo pela noite e pelo riso, uma colina de Carlos Botelho... -, surgiu um novo símbolo. Com a vantagem sobre as marcas já referidas, que exigem muito talento, ou sobre outras, como os corvos, que pedem lendas milenárias, ou as pedras desenhando o chão, que pedem o lombo dobrado e suor, a sardinha das festas, de tão simples, deixa-se ser o que o lisboeta quiser. Lisboeta no sentido lato, porque o Tejo ali ao lado desaguou pelo mundo fora: este ano, houve um italiano, um japonês e uma chilena entre os dez finalistas, dos 6446 concorrentes. Simples (não me canso de repetir), cauda bifurcada, duas curvas suaves, um olhinho na ponta, esta marca, trend, moda, tem tudo para ser sucesso. Ela é o que Portugal devia ser. Simples (já o disse?) e inteligente. 
«DN» de 13 Jun 13

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