23.6.13

O autarca que engolia papéis

Por Ferreira Fernandes
AUTARCA cujo papel é engolir em seco nunca se tinha visto. Aconteceu em Portimão, com o vice-presidente Luís Carito (PS). Estava um inspetor da PJ a fazer-lhe uma busca a casa, Carito arrancou-lhe uma folha da mão e engoliu-a. A PJ diz que o papel servia de prova; o autarca tomou-a à letra e provou. Seria vício do vice? Eu se fosse de uma terra com a notável tradição doceira de Portimão, de dom-rodrigos e morgados, nunca mais daria o meu voto a um tipo que chama um figo a um vulgar mil-folhas, ainda por cima reduzido a uma só. 
A cena é caricata (plagiada, aliás, dos Gato Fedorento: "o papel?", "qual papel?", "o papel...") e deixa-nos em dúvida sobre o que estava lá escrito. Em termos judiciários, Carito tem interesse em dizer que o seu papel na câmara era meramente de embrulho e a folha engolida não tinha nada escrito. Mas, em fim de mandato, deixa um autarca mal colocado apresentar-se com o balanço de um papel em branco. Dá vontade ao eleitor de não voltar a passar-lhe cartão na urna mas, sim, reciclá-lo no ecoponto. O que não impede que, com o seu gesto, o autarca Carito tenha feito o papelão da semana. 
Tanta fama até é capaz de lhe dar a ideia de voltar a candidatar-se. Estou a ver os cartazes: "No anterior mandato foi uma folha A4, mas para o próximo prometo engolir uma enorme folha A1." Graficamente ficava bem uma foto de Carito a roer um dos cantos do cartaz. Cada um tem os pergaminhos que merece. 
«DN» de 23 Jun 13

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