18.6.13

Os Custos da Electricidade

Por Maria Filomena Mónica 
DURANTE uns anos, usufrui de um luxo: deixei de analisar as contas domésticas. A minha reforma sofreu agora um tal corte que voltei a ser obrigada a fazê-lo. Comecei pela EDP. No final de Dezembro de 2011, a Three Gorges, uma empresa estatal chinesa, comprou 21,35% das acções até então nas mãos do Estado português. Pensei que nada aconteceria, de bom ou de mau. Foi com este espírito plácido que me lancei na investigação.
Depois do consumo e da potência contratada, aparece na factura uma «Taxa de exploração DGEG», um «Imposto Especial Consumo Electricidade» e várias quantias, destinadas ao investimento em energias renováveis, à harmonização tarifária dos Açores e Madeira, à passagem de cabos, à compensação de operadores, ao funcionamento da Autoridade da Concorrência e à RDP e RTP. Sempre me enfureceu a ideia de, à socapa, ser forçada a pagar as contas de uma televisão pública ignóbil. Imaginem como fiquei quando descobri que a «contribuição audiovisual», no valor de 2,25 euros, era aplicada à escada do meu prédio, onde, como é óbvio, não há rádios nem TVs. Se a EDP não é monopolista, comporta-se como tal. Vícios antigos nunca se perdem. 
Estava ao rubro, quando notei que a subida do IVA, de 6% para 23%, fizera com que as contas da electricidade de tal forma disparassem que o chefe da missão do FMI, o sr. Selassie, afirmou não entender a razão por que os preços se mantinham altos, uma declaração tanto mais estranha quanto Portugal se limitou a aplicar, julgo, as medidas do memorando da troika. No passado dia 29, celebrou-se o ridículo «Dia Nacional da Energia». Não posso bater palmas. Entre a segunda metade de 2011 e o igual período de 2012, Portugal registou a quarta maior subida da União Europeia. À falta de melhor, queixei-me a uma prima, que me convidou a ir com ela à sede pois lhe tinham dito que ali existia um formulário, onde o cliente podia informar a empresa que não desejava pagar a taxa para o audiovisual. Quando chegámos ao Marquês de Pombal, disseram-nos que, em tempos, existira o tal papelucho, mas que se sumira. Se já estava mal disposta, imaginem como fiquei, quando, à noite, estando a trabalhar no computador, a luz desapareceu. Telefonei para a empresa, a fim de comunicar o acidente. Do outro lado, uma voz exigiu-me o número de contribuinte. Expliquei que, estando às escuras, não lho podia dar. Sem ele, não viria cá ninguém. 
É assim que a EDP nos serve. «Nos» é uma maneira de dizer, porque, segundo o Público, António Mexia recebeu, no ano passado, 1,2 milhões de euros, a que teremos de somar o prémio plurianual (relativo ao mandato de três anos) de 3,1 milhões de euros. Durante a crise, defendo que os salários das empresas privadas devem ser comedidos, não porque os ricos me irritem – alguns dos meus amigos são milionários – mas por razões éticas. A agravar tudo, eis o que aparece no site da EDP: «We combine ethical conduct and professional integrity with initiative and focus on teamwork.» No, you don´t. 
«Expresso» de 8 Jun 13

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2 Comments:

Blogger Laura Cachupa Ferreira said...

Catroga, perdão, Queiroga e José Baptista

Não deixem de ler esta crónica.
São visíveis as melhoras devidas aos meus conselhos.
Ainda há muito trabalho a fazer, como a insistência nos cortes da reforma, mas a MFM está no bom caminho.

18 de junho de 2013 às 20:03  
Blogger JARRA said...

O que fiz, não exatamente por todas as razões aqui elencadas,mas principalmente pela irritação que Mexia me provoca, foi mudar o meu contrato para a Endesa. Não é que vá no imediato ter ganhos materiais substanciais, mas já me sinto mais satisfeito ... E isso está ao alcance de todos! No capitalismo é assim que se muda a realidade!

20 de junho de 2013 às 16:42  

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