17.6.13

Uma praga que merece mais atenção

Por Ferreira Fernandes
PEDRO e Mónica separaram-se. Há dias, Pedro foi ao infantário onde a ex-mulher ia buscar a filha de ambos, encontrou Mónica e uma amiga, Inês, e matou ambas a queima-roupa. Depois, suicidou-se. A arma, um revólver, tinha sido comprada na semana anterior. A um amigo, o Pedro disse que "ia haver mortes". Um jornal escreveu, ontem: "Pedro estava deprimido e não conseguia aceitar a separação de Mónica, ocorrida há cerca de um mês." 
Não sei, ando de táxi, paro nos cafés e leio jornais mas confesso que ainda não tenho o curso completo de Psicologia. Embora suspeite que uma separação pode deprimir um fulano, não sei se ela, a depressão, pode levar ao assassínio. E como sei o suficiente de português, sei que a frase "Pedro estava deprimido e não conseguia aceitar a separação de Mónica, ocorrida há cerca de um mês" no contexto de um artigo sobre assassínios, a modos que faz uma relação causa e efeito entre a depressão e a ação de Pedro. O que me impediria de escrever tal frase, que mais não fosse por respeito pelos deprimidos que não são assassinos. Acresce que sei que demasiados portugueses matam as mulheres e depois se suicidam (ou na versão mais comum, tentam suicidar-se). Daí que, mais útil do que fazer Psicologia, os jornais deveriam fazer um guia prático para os deprimidos que compram uma arma para matar a mulher e depois suicidar-se. O guia teria um conselho simples: invertam a ordem, comecem por se suicidar.
«DN» de 17 Jun 13

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