'Ayatollah' Gaspar: ponha os olhos nisto!
Por Ferreira Fernandes
DO IRÃO, uma surpresa: o único moderado (isto é, crítico) dos candidatos
presidenciais, Hassan Rouhani, foi eleito. É bom para desenvolvermos
esse maravilhoso tema que é a política. Quem se interessar por 2+2 igual
a 4, não é aqui, é no departamento ao lado. O Irão é, numa região
dedicada a Deus, o mais teocrático - tudo deveria ser, pois,
determinado, predefinido e assim. Mas como Lawrence da Arábia tentou
explicar a um pastor de camelos: nada está escrito! O inicial guia
supremo Khomeini fez um Estado com um guia supremo (ele), onde a
república deveria estar sujeita aos clérigos e, estes, ao guia supremo. O
ayatollah que lhe sucedeu, Ali Khamenei, já entortou um pouco a coisa
porque chegou ao cimo quando na hierarquia religiosa era um borra-botas.
Primeira lição de que, nas coisas dos homens, valores mais altos que o
Além se levantam.
Esse Khamenei é que pôs na presidência, em 2005,
Mahmud Ahmadinejad, um tipo com ar de arrumador de automóveis, o
primeiro laico Presidente da República islâmica, e, no entanto, um
iluminado mais crente que muitos mullahs. Nas eleições de agora, já
Khamenei escolheu um grupo de candidatos - no Irão, o guia supremo faz
uma pré-seleção dos que vão ao voto do povo - em que todos eram
conservadores e laicos, com a exceção de Hassan Rouhani, que era clérigo
e moderado. E ganhou este. O Rouhani, claro, não me dá nenhuma
esperança, mas estas contradições (tão humanas), encantam-me.
«DN» de 16 Jun 13 Etiquetas: autor convidado, F.F
1 Comments:
NO 'PÚBLICO' DE HOJE:
«A surpreendente vitória da facção moderada nas presidenciais iranianas levou às ruas de Teerão milhares de apoiantes de Hassan Rohani, eleito à primeira volta na corrida à sucessão de Mahmoud Ahmadinejad.
As cores de campanha eleitoral de Rohani – que venceu com o apoio dos reformistas e do Movimento Verde – voltaram a pintar o centro da capital, depois de terem sido anunciados os resultados, que deram a Rohani 50,68% dos votos. Houve quem saísse à rua com pequenas fitas roxas no pulso, em sinal de apoio à vitória do único candidato moderado nestas eleições. Nas ruas, ouviram-se slogans de campanha. E balões roxos e cartazes com a fotografia do vencedor multiplicavam-se no meio da multidão em festa.
Para surpresa dos observadores ocidentais e iranianos, Rohani, de 64 anos, venceu – à primeira volta e por uma larga margem – os candidatos conservadores, considerados mais fortes. "Esta foi uma vitória da sabedoria, da moderação e da maturidade contra o extremismo", afirmou o sucessor de Ahmadinejad, que acabou por resolver a eleição sem precisar de ir a uma segunda volta: teve 18,6 milhões de votos.
Em segundo lugar ficou Mohammad Ghalibaf, com 16,5 por cento. Presidente da Câmara de Teerão, era tido como um dos favoritos, beneficiando da experiência de governação, mas acabou por ficar a uma larga distância do vencedor. Depois, com 11,3 por cento dos votos, surge Said Jalili, o candidato "oficial", por ser o favorito do homem que chefia o Estado iraniano, o ayatollah Ali Khamenei.
Hassan Rohani, de 64 anos, é um líder religioso moderado, concentrando em si o apoio dos reformistas. Na corrida à sucessão de Mahmoud Ahmadinejad, apresentou-se com algumas propostas de ruptura com a linha oficial. Prometeu uma carta de direitos cívicos, uma recuperação da economia através de uma política fiscal correcta e o melhoramento das relações diplomáticas e comerciais com o Ocidente, levando Bagher Ghalibaf a acusá-lo de cedência ao Ocidente.»
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