29.7.13

Ladrões de casaca como já não se fazem

Por Ferreira Fernandes
UM LADRÃO entrou ontem no Carlton, o mítico "palace" na Croisette, em Cannes, e roubou 40 milhões de euros em diamantes. Nenhum tiro ou violência. O espetacular roubo junta-se a dois outros, também de joias, durante o Festival de Cinema de Cannes, em maio. Podemos, pois, meu caro Watson, dizer que estamos perante o crime em que as câmaras de vigilância deixaram o mais longo testemunho: 106 minutos! Falo, claro, do filme Ladrão de Casaca, de Alfred Hitchcock. Em 1955, Cary Grant vivia na Riviera francesa, reformado de cat burglar, isto é, de ladrão de joias com classe, só mãozinhas e sedução. Acontece que uma vaga de roubos, como a atual, levou a polícia a incomodá-lo. Cary Grant (aos 50, ele fazia de 35 anos e elas pelavam-se por ser enganadas) serve-se então de uma rica herdeira, Grace Kelly (com quarto no Carlton), para desmascarar os novos ladrões. Há uma cena que não interessa ao meu relatório de polícia, mas conto na mesma: "Queres perna ou peito?", pergunta Grace a Cary, durante um piquenique, e ele: "Diz tu!" O diálogo, que aparece no filme, não vinha no guião, foi improviso dos dois... 
Bom, voltando aos colares voadores de há quase 60 anos, era uma mulher que queria deitar as culpas para cima de Cary Grant. É possível que ontem tivesse sido mesmo um remake: o ladrão tinha uma badana a esconder cara e cabeleira. Em todo o caso, entre tantos roubos da alta finança, saúdo a volta da verdadeira iniciativa privada.
"DN" de 29 Jul 13

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