Tudo ao molho…
Por Antunes Ferreira
NO MEIO da embrulhada (podia empregar outro termo, mas este
é o mais suave) em que transformou a política à portuguesa, Passos Coelho foi a
Belém para tentar convencer o ocupante do Palácio – ocupante à boa maneira do
chamado PREC, pois o Palhaço não paga renda… - de que era possível manter a
(des)governação a todo o custo. Com um qualquer (des)Executivo, desde que este
fosse o resultado da ressuscitar da coligação PSD/CDS-PP.
Mas, pelos vistos, ou seja pelo que se vai sabendo, as
coisas não correram de feição para o (ainda) primeiro-ministro. Cavaco
aparentou ter acordado do estado larvar-vegetativo em que vivia, ou melhor,
sobrevivia, e terá imposta a Pedro Passos Coelho uma pseudo ordem sintetizável
no rifão popular: ou sim ou sopas. Ou como diria o comentador desportivo José
Estebes interpretado por Herman José já há uns bons anos: tudo ao molho e fé em
Deus…
E a propósito deste absurdo, conta-se a anedota do prior
rouquíssimo que aceitou que fosse o seu sacristão a subir ao púlpito e dar o
sermão sobre a ressurreição do evangélico Lázaro. O digno pároco ficou em baixo
e foi corrigindo uns quantos dislates proferidos pelo acólito. Este, ao chegar
ao fim da prédica afirmou que Jesus impusera as mãos sobre o sarcófago e
dissera: “Lázaro, levanta-te e anda. E o morto levantou-se e andeu”.
O sacerdote desfechou para cima um autoritário e veemente
correctivo: “É andou, estúpido, é andou, estúpido!” O sacristão assim alertado,
concluiu então a prédica: “Pois, minhas irmãs e meus irmãos, peço-vos desculpa
do que anteriormente disse, pois o que devia ter afirmado era: o Lázaro andou
estúpido durante três dias, mas depois, passou-lhe”…
O País, cada vez mais abespinhado e de olhos esbugalhados,
suspendeu as marchas, os balões, os festões que tinham sobrado das festas dos
Santos Populares e deu por ele a pensar na anedota criminosa que estava a ser contada
por um qualquer extraterrestre que descera inadvertidamente neste – a expressão
é do famigerado Professor Doutor Oliveira Salazar – cantinho à beira-mar
plantado.
À saída do Palácio de Belém,
o (ainda) primeiro-ministro afirmou estar ainda à procura de "uma fórmula
para garantir o apoio político do CDS" ao Governo, o que pode indiciar -
de acordo com o Jornal de Notícias - a via de um acordo de incidência
parlamentar, que deixe o PSD sozinho no Executivo. Aqui não grafo o (des) pois
cito o quotidiano portuense. E voltou a dizer que tudo fará para garantir
"as condições que são necessárias para que o Governo prossiga o seu
trabalho".
Trata-se de esquizofrenia
aguda, trata-se de autismo elevado ao quadrado, trata-se de incontinência
cerebral esta desfaçatez de PPC. Ao fim de três reuniões três (para utilizar a
linguagem tauromáquica) com o inefável Paulo Portas, o “chefe” do (des)Governo
o mais que conseguiu bolsar para cima dos representantes dos órgãos da
comunicação social foi este destempero.
Portas, manhoso q.b., já
tinha conseguido deitar pela borda fora o inconcebível Gaspar; mas não contente
com a proeza, apresentou a sua própria demissão a propósito da nomeação para o
Ministério das Finanças da ministra Maria Luís que deve ter sido mais efémera do
que uns quantos titulares de pastas diversas na I República. Não sei até se
terá batido o recorde da menor permanência no Poder: mas se isso se verificou é
conveniente que Passos informe, quiçá por nota oficiosa o Livro Guiness.
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