16.8.13

«Dito & Feito»

Por José António Lima
MAIS grave do que a demissão de Joaquim Pais Jorge foi a sua nomeação para o Governo. Porque não pode valer tudo em política e, muito menos, na actividade política exercida em nome do Estado.
Um governante não pode passar de um lado para o outro das barricadas como se tudo fosse natural e admissível. Não pode ter andado a vender swaps ao Governo anterior com o intuito de disfarçar o défice público e vigarizar as estatísticas do Eurostat para, no Governo seguinte, aparecer a renegociar os estragos causados pelos swaps.
Não pode ter sido colocado na Estradas de Portugal por um famigerado vulto do socratismo, Paulo Campos, e aí se tornar responsável por alguns dos contratos mais ruinosos para o Estado de PPP rodoviárias para, na encarnação seguinte, entrar no Governo que fez da denúncia e moralização das PPP uma das suas bandeiras distintivas.
Há, pelo menos, três critérios que um candidato a governante deve preencher: competência técnica, ética de comportamento e coerência política. Joaquim Pais Jorge só satisfazia o primeiro – pois não custa admitir que seja um perito nas engenharias financeiras e contabilísticas que andou a vender, em anos recentes, por vários estaminés. Mas não cumpria nem os mínimos éticos (ao dispor-se a dar a cara por uma coisa e pelo seu contrário) nem de confiança política (ao saltar do colo de Sócrates e Paulo Campos para o colo de Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque).
São, por isso, inusitadas a arrogância e a lata de Pais Jorge ao vir queixar-se de «baixeza» e do «lado podre da política» na hora da sua tardia saída.
Perguntar-se-á: como pode um elemento destes chegar ao Governo? Infelizmente, com a rotação há muito instituída do bloco central de interesses e clientelas, já nem sequer é uma novidade.
Neste caso, resultará sobretudo do embevecimento da ministra com as qualidades técnico-profissionais de Joaquim Pais Jorge, esquecendo os crivos de exigência ética e política. O perfil tecnocrata e a patente falta de sensibilidade política de Maria Luís Albuquerque explicarão este lamentável episódio. Mas o que anda a fazer Passos Coelho? Deixa que tudo lhe passe debaixo do nariz? 
«SOL» de 9 Ago 13

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1 Comments:

Blogger José Batista said...

Para quem não tem vergonha todo o mundo é seu.
Depois, em Portugal, os partidos do poder vão procedendo segundo o princípio:
ora agora comes tu
ora agora como eu,
ora agora comes tu mais eu.

E como não há almoços grátis... Pagam os do costume.

16 de agosto de 2013 às 22:45  

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