«Dito & Feito»
Por José António Lima
MAIS grave do que a demissão de Joaquim Pais Jorge foi a sua nomeação
para o Governo. Porque não pode valer tudo em política e, muito menos,
na actividade política exercida em nome do Estado.
Um governante não
pode passar de um lado para o outro das barricadas como se tudo fosse
natural e admissível. Não pode ter andado a vender swaps ao Governo
anterior com o intuito de disfarçar o défice público e vigarizar as
estatísticas do Eurostat para, no Governo seguinte, aparecer a
renegociar os estragos causados pelos swaps.
Não pode ter sido
colocado na Estradas de Portugal por um famigerado vulto do socratismo,
Paulo Campos, e aí se tornar responsável por alguns dos contratos mais
ruinosos para o Estado de PPP rodoviárias para, na encarnação seguinte,
entrar no Governo que fez da denúncia e moralização das PPP uma das suas
bandeiras distintivas.
Há, pelo menos, três critérios que um
candidato a governante deve preencher: competência técnica, ética de
comportamento e coerência política. Joaquim Pais Jorge só satisfazia o
primeiro – pois não custa admitir que seja um perito nas engenharias
financeiras e contabilísticas que andou a vender, em anos recentes, por
vários estaminés. Mas não cumpria nem os mínimos éticos (ao dispor-se a
dar a cara por uma coisa e pelo seu contrário) nem de confiança política
(ao saltar do colo de Sócrates e Paulo Campos para o colo de Passos
Coelho e Maria Luís Albuquerque).
São, por isso, inusitadas a
arrogância e a lata de Pais Jorge ao vir queixar-se de «baixeza» e do
«lado podre da política» na hora da sua tardia saída.
Perguntar-se-á:
como pode um elemento destes chegar ao Governo? Infelizmente, com a
rotação há muito instituída do bloco central de interesses e clientelas,
já nem sequer é uma novidade.
Neste caso, resultará sobretudo do
embevecimento da ministra com as qualidades técnico-profissionais de
Joaquim Pais Jorge, esquecendo os crivos de exigência ética e política. O
perfil tecnocrata e a patente falta de sensibilidade política de Maria
Luís Albuquerque explicarão este lamentável episódio. Mas o que anda a
fazer Passos Coelho? Deixa que tudo lhe passe debaixo do nariz?
«SOL» de 9 Ago 13 Etiquetas: autor convidado, JAL
1 Comments:
Para quem não tem vergonha todo o mundo é seu.
Depois, em Portugal, os partidos do poder vão procedendo segundo o princípio:
ora agora comes tu
ora agora como eu,
ora agora comes tu mais eu.
E como não há almoços grátis... Pagam os do costume.
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