Pitão precisa de psicólogo
Por Ferreira Fernandes
UMA COBRA pitão matou duas crianças no Canadá. "Mas matou mesmo? Tu viste a autópsia?", lançou-me o meu primo que tem "Father of Serpents" tatuado no braço. Lera lá eu a autópsia... Mas ele insistiu: "Vai-se a ver foram as crianças que no escuro pisaram a coitadinha e ela reagiu." O meu primo largou a revista Anaconda e foi pedagógico: "Não há serpentes más, até há uma Pyton anchietae em homenagem ao beato jesuíta José Anchieta. Há é donos irresponsáveis que as deixam fechadas nos apartamentos." De facto, a pitão fugira da loja de animais exóticos do rés do chão, entrou no sistema de ventilação e, daí, no apartamento dos rapazes. "O susto que ela deve ter tido...", comoveu-se o meu primo. "São animais sencientes, a pobre pitão pode ter feito rasgões na pele quando ia por aqueles tubos apertados ", disse, com lágrimas. "Já os miúdos...", comecei eu, mas ele cortou-me: "Esses, aguardemos o relatório para ver o grau da responsabilidade deles no drama..." E eu: "Drama não, tragédia, já há sangue e mortes." E ele, assustado: "Mortes? ! Vira essa boca p' ra lá, a pitão deve estar perturbada mas ainda não morreu!" Depois, pareceu-me mudar de conversa e perguntou-me como se chamava a menina paquistanesa perseguida pelos talibãs. "Malala", disse-lhe eu. O meu primo foi para o computador e pôs-se em contacto com a associação canadiana que lutava pela libertação da injustiçada. Escreveu: "Já tenho nome para a nossa heroína."
«DN» de 7 Ago 13 Etiquetas: autor convidado, F.F
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