20.9.13

E se não formos ratinhos brancos?

Por Ferreira Fernandes
ONTEM irritei-me por ser tratado como ratinho de laboratório. Os do FMI tinham chegado cá e desataram a cortar. Corta, corta, corta. Com claquetes e a realizar filmes, pode ser engraçado. Na vida real, dói. E a dor tornou-se insuportável quando até eles próprios, no FMI, se puseram a fazer relatórios sobre o prejudicial que era fazer tanto corte. 
Senti-me ratinho de laboratório, disse ontem. Mas talvez tenha errado na imagem. Ratinho de laboratório é nos laboratório com experiências. Vamos cortar aqui, a ver o que isto dá... Humm, diminuamos (ou aumentemos) a dose... Isso, sim, era um laboratório, com sábios com dúvidas e passos hesitantes. E, nele, seríamos as cobaias, infeliz papel, mas, ao menos, ao serviço da ciência. Ora essa minha análise de ontem talvez visse demasiado em grande. 
Talvez nós estejamos abaixo do patamar de ratinhos de laboratório porque não há laboratórios nem sábios testando a sociedade portuguesa. Há só funcionários que aviam uma receita - os cortes nunca foram a procura de uma solução, mas só um preconceito engatilhado (os funcionários mudarão de receita quando lhes soprar outro preconceito). Esta hipótese talvez não seja mais certa do que a de ontem, mas tem uma vantagem: dizer não a funcionários errados é mais fácil do que a errados professores de laboratório. Não precisamos de desenvolver teses alternativas, basta dizer: "Não, não vamos por aí." O que é o mínimo a dizer quando à frente está o precipício.
«DN» de 20 Set 13

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