9.10.13

Não podemos ser tão pouco

Por Ferreira Fernandes
RUI MACHETE foi à Comissão Parlamentar dos Negócios Estrangeiros. Foi uma tarde para esquecer. No início, a dúvida: qual a parte do ministro que ia ser ouvida? A do escândalo do BPN ou a do escândalo angolano? O facto de a comissão não se chamar simplesmente dos Negócios fazia supor a última hipótese. Mas logo vimos que também não: apesar de se chamar Comissão dos Negócios Estrangeiros estávamos na Comissão Doméstica, de ceroulas, de exposição do homem português até dizer chega. O que já devíamos desconfiar desde o começo da história. 
Resumindo, o Ministério Público tinha entre mãos um assunto que nem sabia se era assunto, que não sabia como investigar e que provavelmente nem podia investigar porque ocorria noutro país. A este nada deu-se o destino habitual das nossas investigações espúrias, soprou-se para os jornais... Já quase tudo passara, quando Machete se esqueceu que um diplomata pensa duas vezes antes de não dizer nada: a uma rádio angolana, ele disse duas tolices, sem nada pensar. 
Chegámos assim a ontem, para continuarmos lusos até ao tutano. A comissão chamou Machete para todos fazerem prova de vida. A oposição fez de conta que se opunha e os do Governo chutaram para canto. Acabaram a discutir a "via verde do investidor na diáspora"... Portugal, escarrapachado. Tanto desperdício quando em Angola não se fala "angolês", como dizem os taxistas que escrevem crónicas, fala-se português pela maior das razões: é a língua deles.
«DN» de 9 Out 13

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